Tem um ditado popular que expõe que ao início de um relacionamento, os casais se tratam 'meu bem pra cá, meu bem pra lá' e quando o relacionamento termina ficam os 'bens'; aquilo que o casal acumulou em sua convivência juntos e que ora fará parte de uma disputa, amigável ou não. Pus-me a pensar.
Quando um casal separa, o que está em jogo nem sempre são só os bens materiais. Existem bens de conteúdo emocional que também fazem parte da partilha. Amizades, lembranças, colos, e todo um conjunto de vivências e memórias que de tão 'imateriais' parecem nem mesmo existir. Só ao longo de um tempo, não muito tardio, é que são percebidas essas nuances, essas delicadezas. De tão sutis, passam inicialmente despercebidas, só quando o tempo de separação avança, é que é dada a conta dessas perdas. As perdas são constituídas por tudo aquilo que não conseguimos deslocar de forma imparcial e assim resultam em objeto de dor, pois não há como 'rachar' certas coisas.
As lembranças que habitam o imaginário do casal desfeito estarão sempre a perseguir de uma maneira ou de outra e a parte mais machucada, aquela que não concordava com a separação, sairá prejudicada. Arrastará algumas correntes até se convencer de que é necessário um novo cenário surgir, um novo amor a desenhar, uma nova história a começar.
Certamente de muitas dores é feita uma separação, porém às vezes ela é absolutamente necessária para preservarmos ou recuperarmos o que de mais nobre temos: Nossa autoestima, nossa paz, nossa crença no amor. Sim, porque nada pior para afetar a imagem que temos do amor do que um mau amor. Alguns indícios tomam conta explicitando o naufrágio do navio e é bom que percebamos logo a fim de não perdermos tempo. Os bens, materiais ou não, recuperamos. Mas esse, o 'Senhor de Todas as Coisas', não volta!