segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O Que A Morte Ensina à Vida



A 'cerimônia' (que nome pomposo), de entrega do Oscar, em meio a tanto glamour e felicidade, ansiedade e expectativas dos presentes, concorrentes e convidados, faz uma homenagem todos os anos às pessoas ligadas ao cinema, que morreram naquele ano.
A morte chegará a todos nós, famosos ou anônimos, humildes ou esnobes, a diferença é que a morte de alguém famoso, conta com uma visibilidade que a dos demais não terá.
Existem muitas pessoas que não gostam de falar em morte, é um assunto tabu, como a sexualidade foi no séc XIX. A morte é a sexualidade do séc. XXI.
Mantendo o tema afastado, podemos pensar ou ter a ilusão de que ela não nos atingirá. É um mecanismo de negação, contudo, com repercussões extremamente negativas. Falar em morte, desmistificando-a é importante para alcançarmos a beleza da vida.
Na contraposição da morte/vida, conseguimos diagnosticar aspectos a serem valorizados na vida, mudanças a serem implementadas com o objetivo de viver melhor.
A consciência de nossa própria finitude nos leva automaticamente (ou deveria) a traçar planos para absorver da vida o que ela pode oferecer.
Vivemos engolidos pela rotina, muitas vezes estressante e desagradável. Como adultos, sabemos que não vivemos em um maravilhoso mundo cor de rosa. Como adultos, temos obrigações e tarefas a cumprir. As principais dizem respeito à nossa própria subsistência: trabalhamos, atuamos como pais, resolvemos (ou tentamos resolver) problemas e situações. Muitas dessas atividades de nossa rotina, nem sempre fazemos de bom grado, com prazer; oscilações nesse grau de contentamento no desempenho das tarefas da vida adulta é aceitável; o que não é aceitável, do ponto de vista psíquico, é passar uma vida violentando-se cotidianamente. Sim, porque ao permitir-nos todos os dias viver situações aversivas, desagradáveis, estamos nos violentando. Por algum momento ou razão, podemos até 'aguentar' essas situações, mas esse 'aguentar' não é gratuito! Há um preço a pagar, e às vezes caro! Todo ser humano adulto bem 'construído' digamos assim, tem um limite razoável para suportar adversidades e dificuldades. O que não pode acontecer é instalar-se uma aceitação eterna das situações adversas em nossa vida, pois corremos o risco de adoecer. Eu, pessoalmente, acredito que não há como escapar das mazelas psíquicas e orgânicas quando ultrapassamos nosso limite, quando desrespeitamos os sinais emitidos por nosso organismo de que algo não vai bem.
A maioria das pessoas, mesmo aquelas que têm conhecimento do funcionamento psíquico, teimam em desrespeitar esse limite, ignorando-o. Aí começam os problemas, com a possibilidade de alguns serem irreversíveis.
Quando apreciamos, como na 'cerimônia' do Oscar, as homenagens póstumas, vimos que aquelas vidas que ali estão sendo homenageadas, realmente viveram, construíram uma história, deixaram algo. Como famosos que foram, possivelmente serão lembrados por muito tempo e alguns até mesmo para sempre, pelas gerações futuras. Não devemos pretender tanto, mesmo porque o melhor da vida é ser feliz! Cada um a sua maneira! Fiquemos atentos para não cairmos nas ciladas que o esforço exagerado e a corrida ao sucesso podem nos levar. A vida se faz no dia a dia, a vida se faz agora! E o que a morte nos ensina, é que ela acaba.

* Vale a pena, lembrar aqui, as palavras de Steve Jobs, na proximidade de sua morte:
"Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo - expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar - caem diante da morte, deixando apenas o que é importante. Não há razão para não seguir o seu coração. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração."