quarta-feira, 30 de março de 2016

Nenhum CNPJ vale um AVC



A frase que dá título a este texto circula na internet, de autor desconhecido. Não acredito que essa é uma fatalidade, no sentido de que todos aqueles que ousaram ser guerreiros empresários tenham esse triste fim, mas sim porque a frase ilustra e chama a atenção para uma armadilha que pode ser criada na busca pelo sucesso financeiro.
Na empolgação de conquistar mais e mais, algumas pessoas acabam aprisionadas em uma rotina de trabalho exagerado, onde o que tem importância é somente a dedicação com a finalidade de obter lucro.
Triste ver vidas resumirem-se a uma ambição desmedida; entra-se em um processo de alienação total; primeiramente, instala-se um esquecimento de si mesmo; família, filhos, amizades, vêm na sequência. Nada mais importa, só trabalhar, ganhar, acumular.
Não é errado querer prosperar na vida; errado é a prosperidade vir a um alto preço. As pessoas que entram nesse circulo vicioso, não têm discernimento do que acontece com elas próprias; é como se funcionassem no modo automático, não têm condições de perceber o que envolve essa complexa questão. Na vida, no aspecto profissional, é extramente positivo traçar metas, objetivando o crescimento pessoal e profissional. Quem não quer melhorar, lançar conquistas, realizar sonhos, muitos destes só proporcionados pelo trabalho duro e dedicado? Totalmente humano, porém há de se ter sensibilidade e estabelecer também um limite; é desse limite que a frase desse texto nos fala: não adianta prosperar e em seguida adoecer sem ter a chance de aproveitar o fruto de seu trabalho. A vida não se desenvolve de forma sequenciada, ela corre todas os dias, de forma dinâmica e entrelaçada. Quem traça a vida de uma forma inflexível, como, primeiro vou fazer isso, depois aquilo, quase sempre não consegue realizar a sequência definida.
Às vezes, só conseguimos despertar quando já é tarde demais, quando algum nível de estrago já foi feito! AVCs, infartos, depressões, e todo o tipo de mazelas podem advir de uma rotina pesada, estressante, sem sentido. Corre-se tanto, mas corre-se exatamente atrás de que? Essa é uma pergunta que todos nós deveríamos responder antes de cair em alguma cilada, ou  algo pior que possa custar nossa vida.
Quando há um esforço no sentido de equilibrar trabalho e vida, as chances de êxito pessoal, o que engloba tanto a 'felicidade' quanto a 'prosperidade' aumentam; quando o trabalho funciona 'a seu serviço', perfeito! quando, ao contrário, o trabalho funciona como uma violência cotidiana, abre-se portas para todo tipo de problemas de saúde emocional e física.



terça-feira, 29 de março de 2016

Os Meandros do Inconsciente



O inconsciente é mesmo uma figura!
Não no sentido literal, como algo material, desenhado, mas no sentido como usamos  a palavra na gíria e está explicado no dicionário. "Figura: algo ou alguém que se destaca."
Somos em parte comandados por ele, e não adianta discordar! Quem se julga extremamente racional, totalmente objetivo, controlador total de sua vida, infelizmente está a anos-luz atrasado!
Existe uma força que habita em nós, ou melhor, que nos constrói, chamada inconsciente!
Ele tem a principal função de promover o equilíbrio das nossas necessidades psíquicas, as quais damos o nome de desejos.
Quando Freud, ao abandonar a hipnose, propôs à seus pacientes, que lembrassem do fato traumático que poderia ter originado o sintoma ou sintomas por eles apresentados, estabeleceu-se ali, a importância do inconsciente. 
O inconsciente é a nossa caixinha das verdades. Ele é sábio, tem uma coerência própria e está pronto para nos preparar ciladas as quais, mais tarde, conseguiremos enxergar suas 'boas intenções.'
É como um fenômeno da natureza que, por mais que em uma análise inicial e precipitada, vemos tão somente prejuízos, em uma análise mais cuidadosa e detalhada, conseguimos ver o que está 'por trás' daquelas manifestações e o que elas querem nos 'ensinar'. É como se tivéssemos que decodificar mensagens e após este árduo trabalho, ganhar nosso prêmio: viver melhor.
A vida é breve, não estamos aqui a passeio, estamos a serviço! A serviço próprio, como self-service, em inglês! Como exemplo, cito que, às vezes permitimo-nos ser meros objetos decorativos na relação afetiva, mas ele - o inconsciente -, não perdoa! Mais tarde, nos apresentará a conta, por vezes caríssima, a pagar. Neste exemplo, uso a 'conta caríssima' porque, mesmo que você queira, seu 'pagamento' não pode ser feito de pronto. É algo espaçado ao longo de um determinado período que pode estender-se, no caso em questão, levado a futuros relacionamentos. São malas e kits que carregaremos por um longo período até entendermos os significados ocultos daquelas ações que nos permitimos fazer. É como um preço que se paga pela desatenção, pela falta de cuidado, de carinho com nós mesmos. Vai parecer (muito) estranho o que vou dizer, mas, se você tiver que escolher a quem fazer mal, do ponto de vista psíquico, escolha o outro, nunca você! Quando eu desrespeito meus desejos para atender o desejo do outro, a punição é severa! Os sintomas surgem, desabrocham, crescem, pululam...
A boa notícia é que, ao desvendar todo esse enigma, ganha-se, quase para sempre, um savoir faire para toda a vida! É como se ficasse implantado em nós, um chip que nos permitirá evitar cair em novas ciladas; conseguimos apurar nossas escolhas, nos blindamos a futuros fracassos. Ganhamos como bônus pelo sofrimento passado, o desenvolvimento dessa nova habilidade. O inconsciente é como o seu melhor amigo: ele é sincero, não está ali para massagear o seu ego mas lhe ajuda a crescer, o que na vida, é inevitável!

terça-feira, 8 de março de 2016

Sobre Mulheres



Independente de tempo e lugar, as mulheres sempre exerceram função importante na vida de quem as cerca.
Historicamente muitas mudanças ocorreram no imaginário que cerca esse papel. De poderosas matriarcas à submissas com elevado grau de anulação de si mesmas. De abnegadas donas do lar à competentes profissionais nas mais diversas áreas.
A cultura, a sociedade, sempre privilegia em determinado momento algo que interessa mais para a situação. Quem tiver interesse em debruçar-se sobre essas questões 'descobrirá' fatos interessantes.
Iniciamos as mudanças na Revolução Industrial; as consolidamos na 'revolução' sexual. Ao assumir suas escolhas, a mulher conduz a própria vida de maneira assertiva, mesmo diante de um (ainda) emaranhado de conceitos e pré-conceitos que a cerca. Dotar-se de poder de escolha tem um papel mais que absoluto na condição dos resultados das ações que se tem na vida. Sair do papel de vítimas indefesas, 'partir pra cima', enfrentar, confrontar, lutar, conseguir, ganhar.
Ao esconder-se sob as sombras das constituídas, dos estereótipos à elas atribuídos, as mulheres perdiam sua força, sua capacidade de enfrentamento e enfraqueciam-se. Hoje, nós mulheres já avançamos o suficiente para não mais recuar. Resquícios das sociedades machistas ainda nos perseguem, seja na desigualdade em relação aos homens, que atingem uma quase totalidade, como na questão salarial, seja na falta de confiança de algumas em si mesmas, como em algumas situações amorosas.
Sim, é triste constatar, mas mesmo com tantos caminhos percorridos, tantas lutas, tantas conquistas, tantos avanços, ainda hoje existem mulheres capazes de se anular por seus pares; triste ver uma individualidade perdida em detrimento do egoísmo e doença do outro. Quem se compraz com uma situação dessa, não ama, ao contrário, sofre de incapacidade de amar; tem a autoestima tão baixa que necessita que o outro dê um polimento a seu ego. Quantos casos acompanhei na clínica, envolvendo situações assim; quantas lágrimas derramadas, quantas vidas desperdiçadas, quanta oportunidade de crescimento pessoal jogada fora.
As mulheres, na particularidade do seu ser, transbordam riqueza! À elas foi oferecido o dom de gerar, e o fazem com maestria. Geram seus filhos, geram seus projetos, geram suas vidas; conseguem ser fortes nas dificuldades, dóceis em sonhar seus sonhos. Ser mulher nunca foi nem nunca será fácil... Ser mulher é um exercício, um laboratório de vida! Ser mulher é a síntese de tudo, mas é também o complexo!

sábado, 5 de março de 2016

Ser O Que Se É



Não há como passar por esta vida sem, amando, ter tido problemas de alguma natureza. Relacionar-se com o outro inclui administrar diferenças, nem que estas sejam mínimas.
Quando a pessoa associa amar com agregar, crescer, ser feliz, ter tranquilidade, formar parceria, e muitas outras situações que resultam em positivas, o amor parece valer a pena. Quando, ao contrário, o amor resulta mais em problemas do que em contentamentos, é hora de verificar a valia da relação.
Muitas bobagens já foram faladas por poetas acerca do amor; uma delas foi cunhada como: "é impossível ser feliz sozinho." Tom Jobim. Não. Não é impossível ser feliz sozinho, porém inegavelmente, uma parceria amorosa bem estabelecida, aquela que traz mais felicidade do que ansiedade, mais acréscimo do que diminuições, é certamente bem-vinda!
Na vida afetiva, não precisamos encontrar uma alma gêmea; quase sempre, uma alma já basta! Caras-metades não existem, pois pressupõe a incompletude do ser, além do que impõe uma carga enorme de responsabilidade ao outro, no relacionamento; se sou metade, espero que o outro me complete e, definitivamente esta não deve ser a meta de ninguém em um relacionamento, completar nada nem ninguém.
Infelizmente, muitas pessoas, mesmo inconscientemente, criam essa expectativa em relação a seu par afetivo, o que sem dúvida sobrecarrega o relacionamento, já que ninguém pode ser responsável pela felicidade de alguém que não a dele próprio.  
Ao dar-se o encontro afetivo, o ideal seria deixar correr solto, fluir, até mesmo para avaliar a condição do relacionamento se desenvolver a contento para os dois. Mas não, na etapa inicial do relacionamento, grande parte das pessoas faz joguinhos com o objetivo de querer impressionar o outro. Como digo, ninguém manda imprimir seus defeitos em um cartão pessoal; estes, ao contrário são camuflados ou mesmo propositadamente escondidos. Fingir algo que não se é nunca dá certo, pois o tempo tudo revela. Aí os problemas começam... Ainda bem, pois aquilo que começa tem chance de terminar, mas, ao desnudar o verdadeiro eu, damos oportunidade que o outro nos veja como realmente somos, sem disfarces. Fingir é adiar o inevitável. Fingir é perder tempo. Em um grau elevado, faz com que as pessoas se distanciem de quem elas são na verdade! Fingir demasiadamente adoece!
A riqueza dos relacionamentos, a despeito de qualquer perspectiva romântica do amor, a despeito do prazer ou sofrimento que eles podem vir a proporcionar, é a troca que eles permitem. Não é impossível ser feliz sozinho. Mas o amor, este é realmente fundamental!