quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Expectativas Erradas Sobre A Psicoterapia




Terapeutas não possuem varinha de condão. Elas só existem nas estórias infantis!
Apesar de todo adulto conhecer essa realidade, não é raro nos defrontarmos, na prática clínica, com pessoas que esperam verdadeiros milagres do processo psicoterapêutico.
Embora, logo quando percebida, essa fantasia deva ser trabalhada pelo terapeuta a fim de minimizar os riscos de comprometer todo o futuro trabalho a ser desenvolvido, alguns resistem em admitir a verdade criando expectativas erradas, muito além das possibilidades.
Ao submeter-se à terapia, o paciente deve entregar-se ao processo ao ponto de não se preocupar com os resultados. Estes ficam para depois. É como fazer uma viagem onde você, antes de chegar ao destino, curte o trajeto, a paisagem.
Criar expectativas rígidas e demasiadas é uma atitude arriscada em todas as áreas da vida. Aciona-se de imediato a ansiedade que tudo atrapalha. Ao fechar em um determinado propósito, automaticamente outros tão e talvez mais interessantes são anulados.
Ao chegar à terapia, invariavelmente o paciente apresenta queixas (quase sempre no plural); queixas essas muitas vezes frutos de uma vida inteira de não-observação sobre si mesmo. Chega-se 'ingênuo' acerca de seus movimentos psíquicos, seus desejos, seu funcionamento emocional. Este 'desconhecimento', esta falta de atenção acumulada, só fez com que a pessoa represasse várias expectativas de mudança em sua vida. É uma 'necessidade' em resolver uma 'vida' de uma hora para outra. Como se fosse possível dormir hoje de um jeito e acordar amanhã de outro, totalmente diferente.
Dependendo da abordagem utilizada pelo profissional, metas são traçadas de forma mais objetiva, intencional, ou totalmente despretensiosa, por assim dizer. É como se chama em Psicanálise um 'devir', algo que chegará, e, sem pressa, apresentar-se-á, aparecerá, surgirá. 
Claro que tratadas da segunda maneira, as chances de empobrecimento das descobertas das problemáticas diminuem absurdamente; lida-se com mais liberdade, com menos pressão.
Embora hoje preze-se pela urgência em tudo na vida, inclusive nas terapias, aí estabelece-se um erro ao optar pelo excesso de direcionamento. Há que se deixar acontecer, delimitar os acontecimentos. Por esta razão que o número de sessões psicoterápicas deve ser determinado no estilo 'nem muito nem tão pouco'; não é 'terapêutico' menos que uma sessão semanal (seria uma apresentação de notícias), nem diariamente (algo tem que acontecer na vida entre as sessões para ser trabalhado, para dar um encaminhamento).
Fazer terapia é um processo de (re) descoberta. Do mundo (da pessoa, de seu 'mundinho' interior), da vida (em sua simplicidade e complexidade, em seus contrastes), e da extensão de tudo isso. É um desafio que vale a pena, porém reconheço, não é para todos e, assim como a vida não é um mar de rosas, fazer terapia não é, definitivamente, sentar em uma poltrona delas.

  

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Pessoas Cronicamente Infelizes



Todos nós temos dias bons e ruins. Faz parte de nossa trajetória na vida experienciar oscilações de humor, de contentamento e da sensação daquilo que chamamos felicidade.
Contudo, existem pessoas que parecem predestinadas a serem infelizes. Elas sentem-se sem perspectiva, como se algo de ruim sempre as cercasse. Apresentam dificuldade em discriminar que, em meio à situações negativas, entrelaçam-se também situações positivas.
Não há como passar na vida incólume aos sofrimentos. Estes fazem parte do viver. Viver, aliás, implica riscos e estes potencializam a chance de sofrimento. Mas, o que vem a ser sofrimento? Como conceituá-lo, como identificá-lo, como superá-lo?
Sofrimento vem a ser algo que produz determinado nível de insatisfação acompanhada de dor emocional, seja em forma de angústia, seja em forma de tristeza.
A capacidade de lidar com os inevitáveis sofrimentos da e na vida, indicam o nível de felicidade de uma pessoa.
Ao entender os percalços do caminho, ao descobrir maneiras assertivas de lidar com a dor, conseguimos nos fortalecer e diminuir o olhar atento e focado naquilo que nos atinge desviando para situações positivas que sempre existem mas que a visão turva não deixa identificar.
Não sugiro entrar em um jogo neurótico fingindo que a vida é um mar de rosas, onde tudo é lindo e maravilhoso. De maneira alguma! O segredo é assumir as dificuldades e tentar superá-las com os recursos disponíveis, lembrando que os mais eficazes são os que estão mais à mão: Os nossos próprios recursos internos, nossa capacidade de reação às dificuldades.
Pessoas cronicamente infelizes, se não têm motivos para se sentir assim, os criam. Se os têm, elevam à quinta potência, vestem a capa de vítimas eternas e assim seguem a vida. Não perdem uma oportunidade de exercitarem qualquer ação que concorra para sua baixa auto estima a fim de perpetuar sua condição de eternas almas desamparadas. 
É difícil assumir seu movimento psíquico, enxergar além das intermináveis queixas, fazer o 'jogo do contente'. 
Pessoas infelizes têm imensas dificuldades de relacionamento; com as pessoas e com o mundo que as cercam e que as envolvem. Ao perderem a chance da troca emocional com seus pares (os outros seres que aqui vivem e também sofrem, e também amam, e também se decepcionam, e também são felizes...), criam um mundo empobrecido emocionalmente falando, criam uma armadilha para si mesmas onde presas ficarão até despertar para a realidade que a riqueza da vida está na sua globalidade e seus contrários, uma vida onde existe sim dor e tristeza, mas também existe prazer e alegria.