Terapeutas não possuem varinha de condão. Elas só existem nas estórias infantis!
Apesar de todo adulto conhecer essa realidade, não é raro nos defrontarmos, na prática clínica, com pessoas que esperam verdadeiros milagres do processo psicoterapêutico.
Embora, logo quando percebida, essa fantasia deva ser trabalhada pelo terapeuta a fim de minimizar os riscos de comprometer todo o futuro trabalho a ser desenvolvido, alguns resistem em admitir a verdade criando expectativas erradas, muito além das possibilidades.
Ao submeter-se à terapia, o paciente deve entregar-se ao processo ao ponto de não se preocupar com os resultados. Estes ficam para depois. É como fazer uma viagem onde você, antes de chegar ao destino, curte o trajeto, a paisagem.
Criar expectativas rígidas e demasiadas é uma atitude arriscada em todas as áreas da vida. Aciona-se de imediato a ansiedade que tudo atrapalha. Ao fechar em um determinado propósito, automaticamente outros tão e talvez mais interessantes são anulados.
Ao chegar à terapia, invariavelmente o paciente apresenta queixas (quase sempre no plural); queixas essas muitas vezes frutos de uma vida inteira de não-observação sobre si mesmo. Chega-se 'ingênuo' acerca de seus movimentos psíquicos, seus desejos, seu funcionamento emocional. Este 'desconhecimento', esta falta de atenção acumulada, só fez com que a pessoa represasse várias expectativas de mudança em sua vida. É uma 'necessidade' em resolver uma 'vida' de uma hora para outra. Como se fosse possível dormir hoje de um jeito e acordar amanhã de outro, totalmente diferente.
Dependendo da abordagem utilizada pelo profissional, metas são traçadas de forma mais objetiva, intencional, ou totalmente despretensiosa, por assim dizer. É como se chama em Psicanálise um 'devir', algo que chegará, e, sem pressa, apresentar-se-á, aparecerá, surgirá.
Claro que tratadas da segunda maneira, as chances de empobrecimento das descobertas das problemáticas diminuem absurdamente; lida-se com mais liberdade, com menos pressão.
Embora hoje preze-se pela urgência em tudo na vida, inclusive nas terapias, aí estabelece-se um erro ao optar pelo excesso de direcionamento. Há que se deixar acontecer, delimitar os acontecimentos. Por esta razão que o número de sessões psicoterápicas deve ser determinado no estilo 'nem muito nem tão pouco'; não é 'terapêutico' menos que uma sessão semanal (seria uma apresentação de notícias), nem diariamente (algo tem que acontecer na vida entre as sessões para ser trabalhado, para dar um encaminhamento).
Fazer terapia é um processo de (re) descoberta. Do mundo (da pessoa, de seu 'mundinho' interior), da vida (em sua simplicidade e complexidade, em seus contrastes), e da extensão de tudo isso. É um desafio que vale a pena, porém reconheço, não é para todos e, assim como a vida não é um mar de rosas, fazer terapia não é, definitivamente, sentar em uma poltrona delas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário