sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

'Saídas' Aparentemente Irracionais



O Pensador, de Auguste Rodin, exposta nos jardins do Museu Rodin, em Paris.

O que é racional para o psiquismo? 
Um olhar superficial não consegue captar o que há envolvido nas complexas necessidades psíquicas do ser humano.
Na superficialidade, na precipitação das interpretações do funcionamento psíquico, não se consegue entender os meandros do ser em sua totalidade.
Somos impulsionados pelos desejos e estes, pela sua realização, promovem um certo equilíbrio em nossa vida. Para a promoção deste 'certo equilíbrio', estabelece-se a necessidade de reduzir a tensão do psiquismo. É como uma equação onde, através de esforços do 'eu' para combater a insatisfação, chega-se ao equilíbrio mental, fundamental para uma determinada localização do sujeito na vida.
Muitas vezes cegas em relação ao próprio funcionamento, as pessoas fazem coisas sem entender a motivação destas, ou seja, o que realmente as moveram em direção à essas coisas, o que estaria 'por trás'.
Quando se age dentro de um certa 'normalidade', infelizmente normalidade entendida aí como algo esperado pela maioria das pessoas em sociedade, aparentemente tudo vai prosseguindo bem. Será?
Parece difícil compreender que o 'mental' tem razões muito próprias, particulares. Isto significa dizer que, muitas vezes o que se espera desse sujeito e que ele acaba correspondendo por inúmeras razões, a maioria delas 'culturais', é o que justamente o violentará!
Para promover aquele necessário equilíbrio a que me referi, o psiquismo luta incessantemente, de forma muito assertiva, para promovê-lo. Daí que, neste cenário, de, digamos assim, luta pelo equilíbrio, surge o que chamei no título deste texto de 'saídas' aparentemente irracionais.
Aparentemente irracionais, porque de irracionais elas não têm nada! Muito pelo contrário, movido por suas muito particulares, até mesmo peculiares, necessidades, o psiquismo acaba encontrando uma maneira inteligente de subverter a 'ordem' estabelecida.
Nesse contexto de aparente desordem é que surgem os sintomas. Eles vêm para mexer com uma estrutura falida; falência entendida aqui como a incapacidade de enxergar de forma tranquila as ciladas em que esse sujeito envolveu-se. Neste momento, a pessoa necessita de que algo aponte que a vida não vai indo bem. A nível individual, próprio, subjetivo, íntimo. Não aquele 'indo bem' aparente, que os outros esperam e muitas vezes involuntariamente cobram. Decididamente, não viemos a este mundo para agradar ninguém mais do que a nós mesmos!
Assim criam-se os 'bastas'! Quantas vezes verifiquei na prática clínica, o funcionamento das pessoas pedindo inconscientemente um grito de misericórdia, entendido precipitadamente como 'um pedido de ajuda em uma situação de desespero', mas que, recorrendo ao entendimento em hebraico, original, significa 'um pedido que vem do fundo da alma'.
Sem essas saídas extremamente imprescindíveis do funcionamento psíquico, o ser humano estaria à deriva, em um completo caos existencial. A famosa escultura O Pensador, de Auguste Rodin, expressa a dualidade entre a racionalidade expressa pela 'pose' clássica do homem meditando, no entanto também nos mostra esse mesmo homem lutando ao apreciar suas verdades internas, essas sim, poderosas, soberanas. Como bem colocou Suzanne Leal, sobre a racionalidade exagerada, aquela que embota o ser, engessa-o, de forma a não conseguir viver de forma 'ecológica' consigo mesmo: "A racionalidade exagerada é nada menos que a neurose muito bem disfarçada. São as nossas máscaras que criamos para nos esconder de nós mesmos". A boa notícia é que, felizmente, mesmo que seja com dor, essa situação não durará para sempre, um dia ela será alterada por um sonoro 'basta'!.



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