quarta-feira, 22 de março de 2023

Reescrevendo sobre Sintomas.

Assistindo na Netflix a série grega 'O Maestro e o Mar' a qual gostei muito, deparei-me com uma explicação acerca de sintomas psíquicos, a qual transcrevo na íntegra, para depois reescrever à luz de meu entendimento e experiência na área. "Em nossa psiquê, há um sistema que reprime sentimentos desagradáveis, armazenando-os em nosso inconsciente, mas esses sentimentos desagradáveis continuam vivos dentro de nós. Eles têm energia, querem emergir, e quando nos recusamos a analisá-los, eles vêm à tona como sintomas. Quanto mais os suprimimos e reprimimos, mais intensamente vão se manifestar. Nós os chamamos de doenças autoimunes. Elas se manifestam de forma diferente em cada um, dependendo da psiquê, relacionamento, ambiente e passado de cada um. As chamadas “doenças invisíveis” que afligem tantos de nós e não sabemos como curá-las. Todos temos emoções reprimidas. Com a medicação certa, pode entorpecê-las por um tempo. Você aceita que sua mente não reconheça parte de si mesma. Às vezes é necessário ceder. Quanto mais você mente ao seu organismo, mais confuso ele fica e pode dar os comandos errados. O sistema fica bloqueado e doente." Não esqueçamos que foram os gregos os primeiros a se debrucarem ao estudo do que hoje entendemos como processos mentais através da tentativa de sistematizar a Psicologia. A própria palavra Psicologia, deriva dos termos gregos 'psychê' (alma) e logos (razão). Aristóteles, Socrátes e Platão entre outros, foram filósofos gregos que esboçaram as primeiras compreensões da pessoa, do ponto de vista emocional, e indicavam o método de cura de distúbios emocionais através das palavras. Para eles, a psiquê (alma) era o centro da compreensão do ser humano, incluindo os pensamentos, desejos, irracionalidade, sentimentos de amor e ódio e contradições destes. Foram os gregos também, os precurssores da ideia, hoje consolidada, que é importante cuidar do físico tanto quanto do intelecto. Hoje sabe-se através de estudos consolidados, o papel da atividade física no equilíbrio das emoções. Por todos esses fatos históricos e influências, não é difícil entender como a sociedade grega na integralidade (cultura, arte, ciência, visão de homem e de mundo) é permeada por esses conhecimentos. E assim podemos desfrutar, em uma obra acessível, de tão completa explicação sobre o funcionamento psíquico. Minha pretensão em reescrever a fala acima é por conta reafirmar aquilo que considero totalmente verdadeiro e por discordar de alguns aspectos, os quais apresentarei agora. Nós, os seres humanos, fomos 'projetados' assim. Possuímos uma espécie de sistema de armazenamento de sentimentos que, por razões diferentes, reprimimos, inclusive por vivermos em sociedade, onde obviamente não podemos expressar ou fazer o que queremos por limites impostos por essa mesma sociedade. A propósito, lá mesmo na série, que é passada em uma cidadezinha grega e não em uma grande metrópole, percebe-se uma peculiaridade, isto é, quanto menor a comunidade em que estamos inseridos, maiores são os limites e a pressão e maiores são as restrições e as dificuldades de expressão de certas emoções. Podemos, a partir dessa constatação, pensar na individualidade de cada um, isto é, em termos subjetivos, quanto mais reprimida (no sentido de trocas afetivas, conversas sobre individualidade, sobre vida, etc) for a família em que vivemos, de onde viemos, mais repressão de emoções, e, consequentemente (e aqui deve-se concentrar nosso interesse), menos felicidade. Logo, o que chamamos de felicidade é proporcional à liberdade que exercemos. Nas nossas falas e manifestações. No modo como escolhemos levar a vida. Na forma como, de fato, conseguimos exercer nossos desejos e escolhas sem nos preocuparmos com críticas ou julgamentos daqueles que nos cercam. Pode ser difícil, mas é um exercício que temos que começar. Os sentimentos ou desejos que 'precisam' emergir e continuam dentro de nós, quando não encontram a 'saída' internalizam-se provocando estragos (sintomas). Nem sempre os sintomas desenvolvem doenças autoimunes embora quase sempre, por algum período de tempo, consideramos que estamos com 'doenças invisíveis.' Muitas vezes os sintomas precisam chegar a um ponto insustentável, tornando a pessoa incapacitada a viver, para que ela possa, através do questionamento 'o que está errado na minha vida para que eu esteja tendo essa explosão de sintomas' ter a chance de voltar ao jogo. Ao jogo desafiador que é viver em sua plenitude, com tudo o que a vida comtempla. Seus contrastes, tão próprios dela e que a definem e dos quais nenhum de nós escapa: amores, desafetos, prazeres, dores, alegrias, tristezas, saúde, doença. Essas são as lições que desde muito tempo aprendemos com os gregos. Nas séries fictícias e na vida verdadeira.