sábado, 12 de setembro de 2015

Cuidar Para Não Acabar



Relacionar-se afetivamente com alguém nunca foi fácil. Acho que ninguém nunca disse ou até mesmo imaginou isso. Existem alguns elementos que, para o bem dos envolvidos, deveriam estar presentes na relação. O básico do básico é o respeito. Parece simples, por ser básico, fundamental, mas não é. Aí já podem começar a se estabelecer dificuldades. Para que uma pessoa possa respeitar a outra, é necessário que ela primeiramente respeite a si mesma, porém algumas pessoas não vivenciaram situações propiciadoras a desenvolver esse autorrespeito. Por não conseguirem estabelecer limites para si próprias, passam por cima da outra feito um trator desenfreado. 
Entre outros elementos fundamentais para um bom relacionamento estão a cumplicidade, a capacidade de colocar-se na pele do outro, a aceitação irrefutável que não somos modelos (padrões) a que o outro deve seguir, a capacidade de reconhecer erros e exageros, a valorização do outro. Bem, esses são alguns dos elementos que considero imprescindíveis, porém se fosse discorrer sobre tantos outros necessários para um bom e saudável relacionamento afetivo, escreveria um tratado!
Tenho me defrontado hoje na prática clínica com situações que bem ilustram o funcionamento inadequado das pessoas nos relacionamentos. Parece que algumas sofrem de uma espécie de 'perda de sensibilidade'. Neste ponto, cabe perguntar, será que alguma vez essas pessoas desenvolveram 'sensibilidade', pregressamente ao relacionamento?
Prefiro pensar que em se tratando de relacionamentos, somos todos responsáveis; há que se considerar a possibilidade de não termos sido suficientemente assertivos para identificar que estávamos diante de alguém que, por ainda não ter 'se achado' enquanto pessoa, facilmente 'se perderia' em uma relação.  Se a resposta for não, ou seja, se essas pessoas antes do relacionamento já se portavam como pessoas frias, que suprimiam e embotavam seus sentimentos, o que esperar delas agora em uma situação mais complexa, como é a de relacionar-se com outro? 
O que fazer diante de uma situação assim? Quanto de  distância uma relação comporta para ainda ser considerada relação? 
Contraditoriamente, em uma relação há que se ter também um certo distanciamento do outro para que o eu não se anule, não morra. Caso contrário, apreciaríamos o que não se deseja, o domínio de um sobre o outro e a descaracterização do último.
Passarinhos verdes não surgem todos os dias, como adultos sabemos (ou deveríamos saber) disso. Sugiro propor uma terapia ao outro e a si mesmo quando se  está diante de uma situação assim. Creio ser impossível um dar conta das questões anteriores mal resolvidas de ambos. Ao tentar fazer isso, intensifica-se o grau de complicação da mesma. Não damos conta e, o relacionamento doente que teria uma chance de reverter-se para um relacionamento saudável, certamente morrerá de vez.