terça-feira, 13 de outubro de 2020

Você Tem Mais Passado Do Que Futuro?


Impactante esse título.
Assistindo a um dos inúmeros filmes, no preenchimento de tempo deslocado das outras atividades que não estão ocorrendo por conta da continuação do isolamento (no meu caso), deparei-me com essa frase.
Tempo é um elemento extremamente 'volátil!' Tempo é algo muito nobre!
Você já parou para pensar como está vivendo sua vida? Qual a perspectiva que você tem em relação ao que convencionamos chamar de felicidade? Qual a História que você quer construir no tempo que lhe resta? E, por último, responda a pergunta que dá título a este texto: 'você tem mais passado do que futuro?'
Obviamente esta última pergunta é ilustrativa de uma análise impossível pois na realidade não temos condições de respondê-la com precisão. A intenção aqui é atentarmos para a cronologia implicadanascer, viver, morrer.
Muito já se fugiu dessa questão, um verdadeiro tabu. Freud dizia que para suportar a vida temos que aceitar a morte. Em que pese a visão mais pessimista da Psicanálise sobre a vida (onde a morte certamente se inclui) deveríamos parar com a impressão de que somos eternos! Esta não passa de uma fantasia. Somos findos, vamos morrer, sim!
Você pode estar pensando: 'que bobagem essa obviedade' mas muitas pessoas vivem como se não fossem morrer. Vejo esse funcionamento em dois aspectosou não privilegiam seus desejos, adiando-os para depois, (para um dia que pode não chegar), ou não fazem uma avaliação de seu momento para entender o que (ainda) seria possível fazer, nas diversas áreas da vida.
A luta pela sobrevivência, o trabalho excessivo, os compromissos, são os complicadores para a exploração dessa questão porém observo muitas pessoas sem esses problemas, com vida ultra estabilizada, sem problemas financeiros, sem ter que lutar para pagar as contas, que também funcionam assim. Esta é inclusive, a categoria mais resistente, são os mais acometidos pela 'doença da eternidade.'
Aquele ditado popular 'enrola-se com pouca corda' é aí aplicado, estes são os eternos problematizadores. E problematizam não só as suas vidas bem como a vida dos que os cercam, se estes forem desavisados de si mesmos (aquelas pessoas que têm incapacidade de auto-observação).
Ao explorar essa questão da expectativa de vida baseada unicamente na idade que se tem, já ajudaria muito, apesar de, como já foi dito, não termos condições de determinar uma idade certa para a morte. E aqui estabelece-se uma interessante questãoo estresse envolvido faz com que essa idade seja cada vez mais precoce haja vista o número de infartos em pessoas mais 'jovens.'
A fuga a esse entendimento se dá porque ao nos defrontarmos com essa pergunta, nos são impostas certas tomadas de atitude que muitas vezes envolvem medo e a quebra de paradigmas subjetivos, aqueles que estão mais enraizados no nosso ser.
Não basta constatar que nos resta pouco tempo. É necessário mover as peças do tabuleiro, montar estratégias, avançar, ousar, correr riscos, dar a cara à tapa sem medo das consequências e tudo isso decorreria de uma análise mais profunda que talvez não tenhamos condições de realizar. Bem naquele estilo 'crescer dói!'
E assim, infelizmente, a rotina vai dominar. O levantar da cama todos os dias, os compromissos, as contas a pagar, o ano que acaba, o outro que começa, a vida que passa...
Nas suas contradições, no esquema vida, tempo, morte, lembramos o poeta: "O próprio viver é morrer porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela!" Fernando Pessoa.
 
 

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Inconsciência



O título deste texto é proposital. A inconsciência nos remete a um dos mais importantes conceitos psicanalíticos, o Inconsciente. De forma simples, inconsciente é aquilo que ainda não chegou no campo da consciência, algo como 'desconhecido,' ou 'incompreendido.' Explorar o viés do conceito de inconsciente na Psicanálise seria muito interessante, inclusive para ilustrar o que está acontecendo com as pessoas diante do que estamos vivendo hoje porém esse não é meu objetivo aqui. Quero me fazer entender em relação ao fenômeno que estamos vendo ilustrado pelo comportamento de uma maioria de pessoas, aquelas mesmas que estão neste momento lotando as prais e os bares. 

Nesses tempos mais parados, por conta da pandemia e do distanciamento responsável, a vida, por força das circunstâncias, mudou. 
Deveríamos estar saindo para fazer somente o indispensável, que para cada um vai variar de acordo com suas necessidades, que vão desde trabalhar até ir ao mercado porém não é o que está acontecendo.
Não é possível deixar de reconhecer que algo de diferente nos atingiu de forma avassaladora e definitiva e nos espera no amanhã, cronologicamente e metaforicamente falando.
O que será que virá nos próximos mesesAinda teremos o direito de planejar algo ou até mesmo de sonharParecem bastante dramáticos esses questionamentos mas o que se vê não está bonito tampouco é indicativo de mudanças positivas a curto prazo.
Por conta desse cenário, teremos que descobrir uma forma de sobreviver a tantas dificuldades. Dificuldades de ordem variada, internas e externas, dependentes de nossas ações diretas ou não. Perdemos a (falsa) sensação de decisão da vida. Perdemos o (falso) controle que achávamos que tínhamos dela.
Muitas das atitudes que estamos apreciando são resultantes da incapacidade de se aceitar a realidade (espero que temporária) que nos cerca. Vejo em alguns casos uma espécie de negação coletiva. Algumas pessoas não estão conseguindo assimilar o momento especial que estamos vivendo e por essa razão, negam a realidade e agem como se nada estivesse acontecendo.
A contradição dessa situação é que são justamente essas atitudes negacionistas que estão ampliando o tempo de nossa volta à normalidade. A outra alternativa para voltarmos a vida como antes é, obviamente, a descoberta de uma vacina eficaz. 
Cada um poderia e deveria fazer uma análise de suas atitudes, tentar entender seus movimentos e enfrentar seus medos e dúvidas. Penso ser uma grande utopia que isso aconteça por uma diversidade de razões. As pessoas não estão acostumadas a pensar. Pensar dá trabalho. Pensar dói! Inclusive, às vezes, fisicamente.
Seremos vítimas (e aí infelizmente todos nós) desse funcionamento. De todo mal, de toda fase ruim, poderíamos colher aprendizados porém não vislumbro que isso acontecerá! Sem dúvida alguns de nós, aqueles que já faziam antes, estão aproveitando para crescer com tudo isso, outros, eu diria que até passarão por uma involução.
Interessante seria resgatarmos a analogia da teoria de Freud, feita posteriormente por seus seguidores, para explicar o conceito de inconsciente e tentar, cada um de nós, buscar e compreender o que está por baixo da ponta de nosso iceberg particular. Começar olhando o que aparece, o que está de fora, as nossas atitudes, e interpretar o significado delas. Certamente descobriremos muito do que não se vê porém que esconde e guarda significados de grande relevância. Triste reconhecer que por falta de cuidado, de zelo, estaremos caindo em uma armadilha maior do que a ocasionada pelo vírus. Quem viver, verá!

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Quando Os Obstáculos Têm O Poder De Desencorajar


Em certos momentos da vida achamos que estamos sem saída. É a rotina sufocante (agora dentro de casa, para alguns), são as dificuldades micro e macro que temos que enfrentar, são as dúvidas que nos assolam.
No meio de todo esse contexto, ainda contamos com o fator tempo, aquele elemento que funciona ora como nosso amigo, ora como nosso maior inimigo.
Vamos vivendo, vamos construindo relações, vínculos, bens, derrotas, vitórias, acertos e erros. Todo esse volume de elementos diversos nos conduzem a um ponto de partida para uma situação posterior.
A vida em sua dinâmica nos convida a avançar em busca de um bem estar maior. Não esqueçamos que o mais básico princípio psíquico nos afasta da dor em um primeiro momento para a posteriori  nos conduzir ao prazer. Mas, o que fazer quando em meio a tantas dificuldades nos sentimos sem forças para a tão necessária ação de continuar? Como separar e entender o sujeito dividido entre o que julga querer e o que realmente deseja?
A primeira atitude vem em forma de uma negativa 'não devemos nos vitimizar' pois o papel de vítima é sempre imobilizante.
Na sequência, lembrando que não há rigor aqui, devemos avaliar as alternativas que temos e estão nesse momento ofuscadas pelas dificuldades que brilham em nosso entorno.
Com raríssimas exceções, sempre estivemos envolvidos na vida, com algum grau de dificuldade. Muitas vezes o enfrentamento destas nos habilitou sem percebermos a um novo enfrentamento futuro. Sendo assim, temos recursos para lidar com situações sem saber que eles estão lá, a postos, aguardando para serem ativados.
Contrariando o ditado que diz que a primeira impressão é a que fica, não devemos nos precipitar por essa primeira impressão do excesso de dificuldades e permitir que os obstáculos nos desencorajem ou mesmo nos paralisem. Temos o compromisso de tentar pois é sempre a nossa vida e em última instância a nossa felicidade que está em jogo!
Parece absurdo falar em felicidade em um mundo que está virado de cabeça pra baixo, onde tudo é incerto, inclusive a manutenção da vida mas nunca, jamais, devemos abrir mão desse direito que temos. É humano e legítimo correr atrás do que nos faz bem. Sempre será! Que sentido terá uma vida onde seguiremos como zumbis engessados em uma realidade que não nos alimenta?
A vida é curta, cheia de obstáculos, porém sempre valerá a pena. Não faz sentido abrir mão da capacidade de capturar o desejo de vivê-la.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Vida



Há quanto tempo! Quantas saudades... 
Não está sendo do jeito que eu queria mas quantos de nós estamos conseguindo fazer as coisas do jeito que queremos atualmente?
Voltar a escrever é uma urgência, daí fazê-lo em condições que não considero ideais. Então, vamos lá!
Estamos sob um turbilhão de problemas no mundo hoje. Aquela questão existencialista do "de onde viemos para onde vamos" nunca fez tanto sentido! Saiu do quadrado do consultório para inundar nossos dias de isolamento, nossos sonhos e também nossos piores pesadelos.
Quando que em meio aos nossos projetos pessoais pensaríamos ter que parar por algo tão insignificante na natureza, um ser microscópico, e ao mesmo tempo tão importante devido sua capacidade deletéria, e por que não dizer, mortal?
Por conta do tempo estar passando mais devagar, obviamente pela redução das atividades ou mudança de ritmo destas, alguns fenômenos começaram a acontecer, tanto a nível individual, quanto coletivo, e físico, material.
Cada um de nós está podendo observar como essa situação está nos atingindo de modo particular. Podemos observar também como os grupos, as comunidades, os governos, estão funcionando; podemos observar também como a natureza está se fazendo presente, seja nas gramíneas que nasceram entre os mosaicos da Piazze de Roma, seja nos animais selvagens que invadiram Barcelona, seja nos esquilos saltitando nos arredores da Times Square.
Inegavelmente, esse vírus considerado bonito, com um nome quase romântico, veio para nos atingir.
A maneira como ele atingirá cada um de nós em particular, será definida também pelas nossas particularidades. Aqui refiro-me tão somente ao abalo emocional, pois à nível físico sabemos que seu padrão é atingir nosso sistema respiratório.
Bem, voltando ao que me interessa aqui, a observação dessa situação macro em relação ao pequeno universo de cada um. 
Não me passa despercebido, naquilo que eu posso alcançar, as variantes das reações particulares, individuais. Uns com um medo exacerbado, outros num processo de negação, e outros infelizmente sapateando na mais completa ignorância, o que aqui nesse caso, nem de longe é uma benção, visto que os ignorantes serão os primeiros a sucumbir.
Quando o vírus chegou, cada um de nós estava vivendo em seu mundinho, lutando para vencer seus próprios dramas, trabalhando suas dificuldades! Aí veio o vírus e 'disse:' "parem tudo!" E assim estamos tentando sobreviver, e assim estamos nos adaptando.
Imagino como está sendo difícil em particular para os ansiosos, para os controladores, para os poderosos, para os 'donos da verdade' terem que se submeter a esse (co)mando!
Imagino a angústia de quem tem um pouco mais de conhecimento e senso crítico para entender a gravidade da situação ou daqueles que se debruçam noite e dia a estudar medidas para combater esse mal, atestando o nível de dificuldade para achar uma cura ou sequer um paliativo que evite a morte!
A situação que estamos vivendo necessariamente coloca em xeque os paradigmas estabelecidos, para que novos tomem seu lugar. Quem sabe não é o momento de repensarmos nosso rigor, nossas verdades, nossas 'manias' nossas certezas. É isso que do ponto de vista emocional está na pauta. É quase impossível que a reboque dessa tragédia não tenhamos também uma oportunidade de crescimento, e quem sabe, finalmente consigamos, cada um por si, responder a tão intrigante questão, não a nível filosófico mas tão somente a nível subjetivo "de onde vim, para onde vou?"
A propósito, o nome desse texto é vida pois é isso que eu desejo a todos!