sábado, 29 de março de 2014

Que Sociedade É Essa? Quem Somos Nós? (E o 'erro' do IPEA).


Tatá Werneck, atriz.
Os resultados estarrecedores da nova pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), chamada Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPES), me fez indagar quem somos!
Do 'corpo' dos resultados, os que mais me chamaram a atenção foram dois:
- 65% dos entrevistados responderam que 'mulheres com roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas'.
- 58,5% dos entrevistados disseram que 'se as mulheres soubessem se comportar haveria  menos estupros'.
Diante do disposto acima, cabem algumas reflexões.
Não duvido que muitos dos que opinaram dessa forma, engrossam o grupo de falsos moralistas que, socialmente, na frente de suas mulheres, de sua família, de seu chefe, de seu guru, de Deus, ou de qualquer outro personagem que faça parte de seu cenário, demonstram-se ilibados, sérios e até demonstram posturas anti-humanas, assexuadas, monásticas, mas em seus mais 'puros' sonhos, em suas fantasias, sua psiquê mal resolvida, até culpem as 'periguetes' do metrô. Ao que me conste, em cidades praianas como no Rio de Janeiro, por exemplo, é comum a locomoção de mulheres por lugares públicos de forma, digo assim, mais descontraída, em trajes sumários, despreocupadas de que algum 'homem da caverna' possam atacá-las. Mas independente do local, nada justifica o ataque à mulheres. Seus trajes seriam motivo ou razão para alguém, na confusão interna estabelecida provavelmente por uma sexualidade mal resolvida, agredi-las, boliná-las, insultá-las, transformá-las em alvo de violência? Quem tem sua sexualidade mal resolvida em qualquer aspecto que seja, deveria iniciar um processo de reconhecimento do problema, que em geral é bastante complexo, muitas vezes com sua origem na infância, e tentar resolvê-lo em si mesmo, e  não projetando no corpo e na vida do outro.
Para 'salvar' nossa percepção a cerca de nós mesmos como pessoas 'humanas', a pesquisa não é conclusiva no sentido de afirmar que a partir desses dados a sociedade tem pouca tolerância à violência à mulher, tanto que para 91% dos ouvidos, a prisão deve ser o destino para os  maridos que batem nas esposas. É, parece que há uma luz...dentro de nós!
Nota: Ontem, dia 4 de abril, o IPEA divulgou que houve um erro nos resultados divulgados da pesquisa e, diferentemente da informação anterior, 26% e não 65% dos entrevistados concordavam totalmente ou parcialmente com a afirmação "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser estrupadas". Em função deste erro, pesquisadores e o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Instituto foram desligados por pedido de exoneração. Não deixa de ser um (pequeno) alívio esta emenda, porém, este novo resultado também não é portador de boas notícias, pois traz consigo duas inseguranças, uma, a de que em um universo considerável (26%), ainda cogita-se a violência contra as mulheres e outra, a de que após o 'erro', confiar fica sempre mais difícil.


sábado, 22 de março de 2014

Precisamos de Abraço



Sem querer desmerecer o beijo, sobretudo em sua função erótica, sempre achei o abraço algo mais envolvente, devido seus 'componentes' serem mais, digamos assim, completos.
O psiquiatra francês Michel Lejoyeux, detendo-se a estudar o abraço, deparou-se com uma pesquisa realizada no Japão, onde foi observado o efeito 'calmante' do abraço tanto em bebês humanos quanto em animais (leões bebês). Os estudos prosseguem na direção de afirmar os benefícios que esse contato físico (o abraço) promoveria, por exemplo, em pacientes cardíacos, no sentido de alterar positivamente os batimentos do coração.
Atualmente vivemos em um contraste ao se tratar de Ciência. Por vezes apreciamos uma enorme flexibilidade e aceitação de terapêuticas alternativas, principalmente no estágio último da condução de algumas patologias, quando 'de tudo já foi tentado'; nessa situação, parece haver um 'afrouxamento' dos radicalismos científicos, tanto por parte de profissionais que conduzem o caso, quanto por parte da família, tomada pelo desespero de perder alguém querido. Nesse momento pode tudo, tudo deve ser tentado, tratamentos em teste inclusive. Outras vezes, narizes são torcidos até para especialidades já reconhecidas legalmente pelo Conselho Federal de Medicina, como a Homeopatia. Estes são os seres humanos, apresento-lhes!
Concentrando no assunto que me interessa, o abraço, é sabida a necessidade de contato que temos. Ela é por assim dizer, ancestral. Desde os tempos das cavernas, mantemos contato, encostamos, pegamos, puxamos, esfregamos e tudo o mais que impulsione e faça vibrar nossos sentidos em sua completude, aí incluída também a atividade sexual. Tudo que é relativo ao contato parece funcionar como um regulador natural de nosso psiquismo. Por que não conceber então, que o abraço possa ser uma espécie de remédio para alguns de nossos muitos males físicos e emocionais? De tão natural, de tão simples, de tão 'à mão', poderia e deveria ser utilizado em larga escala, sem contra indicações. Por que não? Preconceito, medo, problemas piores como os TOCs da vida, que tanto nos impedem de trocar com alguém que talvez esteja disposto, querendo e precisando do mesmo que nós? Seria bom, cada um, de forma única e subjetiva, tentar identificar qual a necessidade desse poderoso remedinho... Comentário final do Dr. Lejoyeux: "Imagino o dia em que poderei prescrever a dose diária de abraço naqueles que amamos". Só complementando, creio que nosso trabalho deva ser o de orientar, chamar a atenção para esse 'tratamento', quanto à dose, quem melhor sabe, é a própria pessoa.

terça-feira, 4 de março de 2014

Onda Selfie: A internet faz bem para o ego?


Kim Kardashian, Sempre em Autopromoção.

Inegavelmente um fenômeno global, chegando até a ser considerado pelo respeitado dicionário Oxford , o mais completo da língua inglesa, como a palavra do ano em 2013, o selfie passou a despertar interesse na área da Psicologia. Em sua mais recente edição, a revista francesa Psychologies, trás um artigo que fala sobre a moda que se instalou na internet, sobretudo nas redes sociais, das autofotografias. Pergunta então, se essa atitude de fotografar-se e expor a fotografia na internet teria algum efeito positivo para o ego da pessoa.
O ser humano sempre teve uma necessidade de 'aparecer'. Provavelmente o selfie reporta aos autorretratos que existem desde o século V a.c., sob forma de esculturas, avançando nos séculos posteriores como pinturas. A ideia de mostrar-se ao mundo não é atual. A motivação é variada, seja para marcar território, seja simplesmente para praticar uma espécie de autocontemplação: Me posto, me vejo, me admiro, massageio meu ego. 
O questionamento parece ter uma resposta positiva. Sim, postar selfie faz bem ao ego, se fosse o contrário, que instinto masoquista moveria quem o faz? O 'grau' de influência positiva que o selfie terá, dependerá da individualidade de cada um, ai incluídas suas características, suas necessidades, suas carências, sua necessidade de exposição. Quem usa de maneira assídua o selfie denota uma enorme necessidade de exercer a autoadmiração e de buscar a admiração dos outros. Como num ritual, várias fotos tiradas pelo celular, este sempre a mão, conduzem o modelo a exercer seu lado narcísico. Em adolescentes, um certo grau desse narcisismo é até desejável, fazendo parte da crise normativa que se instala na adolescência, visto que é nessa fase que a partir do autoerotismo constrói-se uma imagem única e diferenciada de si mesmo em relação aos demais, processo este fundamental na construção da identidade.
Amigos em situações de alegria e confraternização também utilizam-se do selfie para registrar os momentos em grupo. Além da praticidade, é um registro fiel do sentimento do momento; este ficará impresso de imediato e para sempre, perpetuando esses fragmentos de felicidade tão importantes em nossa vida. Uma característica positiva a mais desses momentos é a sua imprevisibilidade; sempre tem nessas ocasiões, alguns desavisados, os que não posam para a foto, os que são pegos de surpresa no selfie 'grupal', assim tendo registrada sua maior espontaneidade, situação aparentemente contrária ao selfie, que preconiza o parar, arrumar e posar. Este recurso foi usado pela apresentadora americana Ellen DeGeneres, na recente festa do Oscar 2014.
Dentro de um padrão fora do exagero, o selfie é bem vindo e sim, pode representar satisfação. Agora, pessoas que se concentram tão somente nos selfies, com caras e bocas, e anulam qualquer outra fonte de interesse na net, nas redes sociais, que inclusive tem essa característica de promover a 'troca' entre indivíduos, podem estar construindo um padrão patológico onde, sem perceberem, ao contrário de alimentar o ego com elementos construtivos, isolam-se em seu comportamento narcísico, em um mundo próprio e artificial, como as imagens paradas, arrumadas e sem vida desses intermináveis ensaios fotográficos. Afinal, todos conhecemos o fim de Narciso.

domingo, 2 de março de 2014

Comunicação



Um dos maiores facilitadores nas relações humanas é a comunicação entre as pessoas. Quando esta não flui, nossos objetivos, tudo aquilo que desejamos, pode ficar comprometido.
Há muito que se deixou de privilegiar o Q.I. (quociente de inteligência) como fonte única de sucesso e realização na vida das pessoas, pois este avalia prioritariamente as capacidades cognitivas do indivíduo. Hoje, preconiza-se muito mais do que aquilo que consideramos 'inteligência'; Valoriza-se atualmente um conceito conhecido como 'inteligência emocional', esta definida como a capacidade da pessoa em reconhecer seus sentimentos e de quem as cerca, bem como lidar de maneira assertiva e satisfatória com eles, incluindo aí o manejo das frustrações que invariavelmente fazem parte da vida.
É como se o Q.I. fosse um elemento isolado, representado por características tão somente intelectuais, deixando de fora o que mais nos representa como seres humanos, que é nossa capacidade de nos relacionarmos com as pessoas e o mundo em que vivemos de maneira global, inteira.
Daí vem a importância fundamental da comunicação. A maneira como chegamos e como permanecemos nas situações ou nas relações vai estar relacionada totalmente com a qualidade dessa comunicação. De coisas mais simples, já propagadas pelos linguistas, como o simples tom e ritmo da nossa voz, até as mais complexas (aí entrando seu dúvida o conhecimento 'intelectual'), como o saber dissertar sobre determinado assunto quando necessário. 
Parece que ninguém terá sucesso na vida, entendendo sucesso como um resultado que leva ao contentamento, ao prazer em viver, a felicidade, se não souber onde e como pisa. Hoje não há mais lugar para amadorismo, seja nas relações pessoais ou profissionais.
Começando no lugar mais frequentado, nosso lar,  onde já devemos exercer nosso 'laboratório' da comunicação. É lá que, com nossos próximos mais próximos, deveríamos aprender a desenvolver essa capacidade de partilhar informações, partilhar vida, que é o que define a comunicação. Este ato levará ao incremento de nossa inteligência mais completa, a emocional.  Se não nos esforçamos para iniciar e manter uma comunicação com esses seres, que quase sempre nos apresentam o que é a vida, uma etapa importante do processo ficará prejudicada. Família que conversa, discute, briga, cresce, discorda, troca, certamente estará produzindo indivíduos mais verdadeiros, mais 'pulsantes', que terão fora dela - da família - mais chances de acertar.