terça-feira, 4 de março de 2014

Onda Selfie: A internet faz bem para o ego?


Kim Kardashian, Sempre em Autopromoção.

Inegavelmente um fenômeno global, chegando até a ser considerado pelo respeitado dicionário Oxford , o mais completo da língua inglesa, como a palavra do ano em 2013, o selfie passou a despertar interesse na área da Psicologia. Em sua mais recente edição, a revista francesa Psychologies, trás um artigo que fala sobre a moda que se instalou na internet, sobretudo nas redes sociais, das autofotografias. Pergunta então, se essa atitude de fotografar-se e expor a fotografia na internet teria algum efeito positivo para o ego da pessoa.
O ser humano sempre teve uma necessidade de 'aparecer'. Provavelmente o selfie reporta aos autorretratos que existem desde o século V a.c., sob forma de esculturas, avançando nos séculos posteriores como pinturas. A ideia de mostrar-se ao mundo não é atual. A motivação é variada, seja para marcar território, seja simplesmente para praticar uma espécie de autocontemplação: Me posto, me vejo, me admiro, massageio meu ego. 
O questionamento parece ter uma resposta positiva. Sim, postar selfie faz bem ao ego, se fosse o contrário, que instinto masoquista moveria quem o faz? O 'grau' de influência positiva que o selfie terá, dependerá da individualidade de cada um, ai incluídas suas características, suas necessidades, suas carências, sua necessidade de exposição. Quem usa de maneira assídua o selfie denota uma enorme necessidade de exercer a autoadmiração e de buscar a admiração dos outros. Como num ritual, várias fotos tiradas pelo celular, este sempre a mão, conduzem o modelo a exercer seu lado narcísico. Em adolescentes, um certo grau desse narcisismo é até desejável, fazendo parte da crise normativa que se instala na adolescência, visto que é nessa fase que a partir do autoerotismo constrói-se uma imagem única e diferenciada de si mesmo em relação aos demais, processo este fundamental na construção da identidade.
Amigos em situações de alegria e confraternização também utilizam-se do selfie para registrar os momentos em grupo. Além da praticidade, é um registro fiel do sentimento do momento; este ficará impresso de imediato e para sempre, perpetuando esses fragmentos de felicidade tão importantes em nossa vida. Uma característica positiva a mais desses momentos é a sua imprevisibilidade; sempre tem nessas ocasiões, alguns desavisados, os que não posam para a foto, os que são pegos de surpresa no selfie 'grupal', assim tendo registrada sua maior espontaneidade, situação aparentemente contrária ao selfie, que preconiza o parar, arrumar e posar. Este recurso foi usado pela apresentadora americana Ellen DeGeneres, na recente festa do Oscar 2014.
Dentro de um padrão fora do exagero, o selfie é bem vindo e sim, pode representar satisfação. Agora, pessoas que se concentram tão somente nos selfies, com caras e bocas, e anulam qualquer outra fonte de interesse na net, nas redes sociais, que inclusive tem essa característica de promover a 'troca' entre indivíduos, podem estar construindo um padrão patológico onde, sem perceberem, ao contrário de alimentar o ego com elementos construtivos, isolam-se em seu comportamento narcísico, em um mundo próprio e artificial, como as imagens paradas, arrumadas e sem vida desses intermináveis ensaios fotográficos. Afinal, todos conhecemos o fim de Narciso.

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