sábado, 28 de dezembro de 2013

Orgulho e Vaidade.



A característica principal dos sentimentos humanos é sua atemporalidade. Diria que estes surgiram com os neandertais, pois penso ser impossível uma espécie viver 150 mil anos, desprovido de qualquer 'sentimento'; não o mais primitivo de todos, o medo, mas os mais complexos e que hoje caracterizam e definem o homem moderno. Claro que em uma época remota da humanidade, o que prevaleciam eram os instintos, o de sobrevivência destacadamente, em função das inóspitas condições que nossos ancestrais viviam. Antes, estes 'precursores do homem moderno', eram considerados seres selvagens e embrutecidos, porém estudos recentes da Sociedade Americana de Paleontologia, baseados em evidências materiais, sugerem que eles eram muito mais 'inteligentes' do que se previa.
Especulações à parte, sentimentos como o orgulho e a vaidade podem ser observados historicamente com certa facilidade, acompanhando nossa 'espécie' seguramente desde a  Antiguidade até hoje.
Por que nós, os seres humanos, somos afeitos a sentimentos que chegaram a ser considerados como 'os piores vícios da personalidade humana'? Quão dispostos estamos a viver no teatro que sustenta a imagem de felicidade que muitas vezes ostentamos se, no 'porão' estamos fechados e escuros?
No mundo de completa exposição em que vivemos, onde o sucesso parece ser medido pelas opiniões que os outros têm sobre nós, muitas pessoas vivem de aparências enquanto seu interior é corroído por angústias sem fim. Claro, o sucesso atrai e por isso fica estabelecida a questão: Como ser verdadeiro, não se preocupar com as aparências, diante da observação dos que nos cercam? Como escapar do 'julgamento' oferecido pela sociedade (distante) e até mesmo pela família e amigos (próximos) e continuar a refletir o que somos na verdade?
Nesse cenário, parece que o que menos importa é o que sentimos; a tranquilidade interior, a paz, a verdade, o que pulsa em nós; fica valendo o orgulho e a vaidade expressa, verdadeiros ímãs para o individualismo que inevitavelmente tanto nos afastará das pessoas quanto do que nos fará felizes. Enquanto abrirmos mão do que nos alimenta, privilegiando em nossa vida o orgulho e a vaidade, seguiremos cegos em direção ao que não importa, ao que nada concorre para reconhecermos nossas limitações, nossos fracassos, o que poderia nos ajudar no interminável processo de (re) construção na vida. Encarar nossos medos, fracassos e limitações concorre para nos tornarmos verdadeiros, nos fortalecermos, entender que de nada adianta vestir a máscara de falsos 'vitoriosos' enquanto tudo desmorona dentro e em volta de nós. Podemos enganar a todos, menos a nós mesmos, a não ser que estejamos profundamente doentes.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

CNH



Apesar de meu blog ser de cunho psicológico, não me furto de escrever sobre o que desejo: Se assim fosse estaria exercitando o mais completo contra-senso, já que acho que nada na vida deve ser rigoroso.
Recomendo salvar o nº de sua CNH em local seguro. Escrito em seu livro de cabeceira, guardado em um cofre, em seu HD externo, dentro do vaso da sala etc... mas guarde! Ao perdê-la, você terá que cumprir uma verdadeira via crucis para tirar a 2ª via, caso não tenha este número! O site do DETRAN não disponibiliza o boleto para pagamento da 2ª via se você não preenche o número do CNH.
Começando o relato:
Já as 7.20 da manhã quando cheguei, uma fila enorme já estava formada no sol em frente ao DETRAN. Às 8 h., quando o porão abre e o 'Círio de Nazaré' entra naquele corre-corre, mais filas formam-se numa confusão sem fim; não há recepção para informação. Existem duas filas: Uma para informações acerca de habilitação e outra para informações acerca de veículos. Uma 'informaçãozinha' que seja, você terá que entrar nessas filas, nem que seja para ouvir que o que você quer não vai ser resolvido. Muito prático não? 
De posse da senha que me levaria ao local da espera, sentada, pude observar alguns 'fenômenos'.
Um funcionário gordinho abanava-se com papéis do trabalho, mas não era pelo fato dele ser gordinho. Sua colega magrinha ao lado, pasmem, tem um leque (aquele objeto em desuso, do séc. XVI); ela o traz de casa por saber o calor que terá que enfrentar. O clima é desértico, o ar-condicionado não funciona. O DETRAN é um órgão arrecadador e imagino que arrecade muito; sendo assim, deveria proporcionar aos seus usuários um mínimo de conforto, até porque a espera é longa. São 13 guichês de atendimento mas só 6 estavam funcionando.
Revolta ver que pessoas sem a menor preocupação furam a frente de quem entrou naquela fila enorme. Se essa é uma prática comum, então deveriam instituir alguns 'critérios para furar fila', quais sejam:
- pessoas conhecidas, ou, o amigo do amigo, do amigo, do amigo, de funcionário.
- pessoas jovens acompanhadas de seu tiozinho idoso.
- policiais militares fardados.
- oficiais da Aeronáutica.
- mulheres gordinhas, fingindo-se de grávidas.
- pessoas 'colantes'; aquelas que se aproximam devagarzinho, como se não quisessem nada e quando quem está sendo atendido levanta, sentam-se sem o menor constrangimento.
- engomadinhos de óculos escuros.
- pessoas bem vestidas portando relógio de parede no pulso.
- homens carecas que falam grosso. (Não encontrei sentido nenhum para essa 'categoria', mas presenciei).
That's all!
Em tempo: Depois de toda essa 'odisséia', fui informada que a carteira de motorista sairia 'na mesma hora'. Felicidade total, porém o 'na mesma hora' foram 'daqui a duas horas'. 


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Balanço



Balanço é um termo empregado pela Contabilidade e define a ação de avaliar a situação de uma empresa em um determinado período.
Emprestando este termo da Contabilidade, um 'balanço' emocional, ou seja, uma avaliação de nossa situação emocional, é sempre útil para redirecionarmos a vida.
A propósito do fim de ano, aproxima-se a hora de voltarmos a atenção para nossa vida. O que avançamos, o que realizamos, ou, se, ao contrário, involuímos.
Na verdade, o ideal seria fazermos 'balancetes' (mais uma vez emprestando o termo da Contabilidade), por estes serem feitos de forma mais amiúde, assiduamente. Assim conseguiríamos ter uma 'visão' mais real daquilo que nos atinge, o que fazemos ou deixamos de fazer. De nossos acertos, nossos erros, nossas perdas, nossos ganhos.
Sei que é um exercício difícil e por vezes frustrante, mas tão necessário para atingirmos nossos objetivos! Quando conseguimos nos defrontar com nossas verdades, o caminho pode tornar-se mais fácil.
De nada adianta disfarçamos nossa infelicidade, não admitirmos nossa dor. Só quando nos dispormos a encarar as dificuldades, a assumir a posição de falhos, de carentes, de muitas vezes até perdidos é que saímos da superficialidade que nos impede de viver a vida de forma mais 'inteira', com tudo aquilo que ela contempla: Alegrias e tristezas, prazer e dor, vitórias e derrotas. São esses contrastes que favorecem nosso desenvolvimento e que tornam a vida tão bela. Imaginem o marasmo que seria se tudo fosse perfeito, irretocável. O tédio nos dominaria e a falta de estímulos embotaria nosso desejo.
Existem pessoas que vivem 70, 80 anos, atuando em seu próprio teatro. Teatro que se configura dia a dia para a platéia da família, dos amigos, dos desconhecidos. Mas, e o interior? Qual o objetivo de vivermos senão nos melhorar interiormente, sermos felizes? Mas não aquela felicidade de 'comercial de margarina' e sim a felicidade real, aquela que pulsa, que faz vibrar, que faz sonhar, que faz gozarmos com a vida.
Que em 2014 possamos deixar de ser expectadores da felicidade alheia e consigamos passar para uma nova fase, a fase de construção de nossa própria felicidade. Mesmo que o caminho seja 'duro', cansativo, de luta, certamente valerá à pena. Dessa vez, é a sua vida que está em jogo. Pense nisso!

sábado, 16 de novembro de 2013

Perdas e Ganhos



Diz um ditado popular que só damos valor às coisas quando as perdemos. Acho que nem sempre se processa desse jeito (palavra só), mas parece ser verdade que quando estamos diante de uma situação que pode incluir perda, passamos a valorizar o que até ontem passava despercebido (ou não tanto valorizado).
A vida passa e muitas vezes não damos conta do que realmente tem valor. A rotina nos engole, dias vão, dias vem e de repente, percebemos alguma coisa indo pelos dedos, fugindo de nossas mãos, como se alguma coisa ruim fosse acontecer e nada podemos fazer para reverter o processo.
Quando conseguimos detectar o aproximar da situação, temos tempo de pensar, reavaliar e revalidar, não sem antes o mergulho necessário do "onde foi que eu errei?". Sim, pois somos todos responsáveis! Depositar a culpa no outro (ou nos outros) e isentar-se da situação não é tão somente imaturo quanto contraproducente. Nada do que nos envolve pode nos deixar de fora. Parece óbvio, mas quantas vezes fugimos de situações para, dando uma de desentendidos, sair de vítima das circunstâncias? É este o momento de os demais envolvidos na situação imporem-se e mostrar o que realmente está em jogo. É necessário esse choque de realidade para assim perceber se vale a pena continuar, prosseguir ou se é melhor sair de cena. Quando a conclusão é fruto de uma interpretação pensada, todos saem ganhando. O que não se pode e não se deve é insistir em uma situação que só está trazendo insatisfação e sofrimento. Temos mais o que ganhar na vida; mesmo que esses ganhos também contemplem perdas. Estas muitas vezes fazem parte!

domingo, 3 de novembro de 2013

Quando o Amor Acontece



'Atire a primeira pedra, aquele que não sofreu por amor'... Não precisa ter sido o maior de todos os sofrimentos, mesmo um 'sofrimentozinho'...
Quando amamos, apostamos todas as cartas, queremos fazer funcionar, queremos desenvolver um sistema que se retroalimenta proporcionando felicidade, mas nem sempre é assim, às vezes vêm as decepções, as frustrações, o mal querer.
Ao conhecer alguém com status para uma possível cara-metade, é necessário que se procedam algumas observações a fim de não investir em um relacionamento que já tem grandes chances de acarretar problemas e dor. Só para constar, parece artificialismo demais pensar e fazer assim, porém, já que temos tanto cuidado em outros aspectos de nossa vida, escolha de profissão, de amizades, de lugares que frequentamos, porque não termos também um pouco de cuidado na escolha de quem vamos nos relacionar amorosamente?
Amar é uma das melhores coisas que pode acontecer na vida das pessoas; passar a vida sem amor é como estar diante de uma tela em branco, onde ao lado de tintas e pincéis de diversos tipos, não se consegue nenhuma inspiração para dar os primeiros traços.
Voltando às observações, a mais importante refere-se à identificação entre as pessoas. Opostos se atraem na Física; no amor, os semelhantes se mantêm. Se você de início já percebe que a pessoa é seu oposto, não há nenhuma semelhança entre as coisas simples ou mais complexas na vida, já é uma dificuldade quase intransponível de se enfrentar. No fundo, no fundo, já trazemos a expectativa inconsciente de nos relacionarmos com um 'quase-eu' e quando nos deparamos com  'meu avesso, meu oposto', muito trabalho deverá ser realizado. Mas, no amor, não há que se ter 'trabalho'; tudo deveria acontecer o mais naturalmente possível a fim de despertar o mais puro interesse entre as partes. Os esforços ficam para a atividade profissional. Essa sim demanda planejamento, organização, desenvolvimento, tudo mais milimetricamente calculado. No amor, a coisa deveria correr mais solta. Ou acontece ou não. 
Outra observação a ser feita é se na rotina do relacionamento, alguém está se 'adaptando' a situações, a desejos que não são os seus próprios. Se isto estiver acontecendo, o sinal de alerta vermelho deve ser imediatamente ligado. Nessa seara, ninguém está aqui para isso, ou seja, 'você tem que ser você, eu tenho que ser eu, se nos encontrarmos será lindo, senão...'
É impressionante como casais que estão passando por essa  situação, ficam cegos à essa realidade. E muitas vezes são jovens com uma vida de oportunidades e escolhas pela frente mas que, de repente, inconscientemente optam por serem infelizes e fazer o outro infeliz! 
Dizem que o segundo filho nasce porque se esquece a dor do parto... Assim como na música de João Bosco, que dá título a este texto: "O amor quando acontece a gente esquece logo que sofreu um dia...". Em tempo: Não precisava.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Meu bem, Meus Bens.




Tem um ditado popular que expõe que ao início de um relacionamento, os casais se tratam 'meu bem pra cá, meu bem pra lá' e quando o relacionamento termina ficam os 'bens'; aquilo que o casal acumulou em sua convivência juntos e que ora fará parte de uma disputa, amigável ou não. Pus-me a pensar.
Quando um casal separa, o que está em jogo nem sempre são só os bens materiais. Existem bens de conteúdo emocional que também fazem parte da partilha. Amizades, lembranças, colos, e todo um conjunto de vivências e memórias que de tão 'imateriais' parecem nem mesmo existir. Só ao longo de um tempo, não muito tardio, é que são percebidas essas nuances, essas delicadezas. De tão sutis, passam inicialmente despercebidas, só quando o tempo de separação avança, é que é dada a conta dessas perdas. As perdas são constituídas por tudo aquilo que não conseguimos deslocar de forma imparcial e assim resultam em objeto de dor, pois não há como 'rachar' certas coisas. 
As lembranças que habitam o imaginário do casal desfeito estarão sempre a perseguir de uma maneira ou de outra e a parte mais machucada, aquela que não concordava com a separação, sairá prejudicada. Arrastará algumas correntes até se convencer de que é necessário um novo cenário surgir, um novo amor a desenhar, uma nova história a começar.
Certamente de muitas dores é feita uma separação, porém às vezes ela é absolutamente necessária para preservarmos ou recuperarmos o que de mais nobre temos: Nossa autoestima, nossa paz, nossa crença no amor. Sim, porque nada pior para afetar a imagem que temos do amor do que um mau amor. Alguns indícios tomam conta explicitando o naufrágio do navio e é bom que percebamos logo a fim de não perdermos tempo. Os bens, materiais ou não, recuperamos. Mas esse, o 'Senhor de Todas as Coisas', não volta!

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Vocação Para Ser Feliz



Nesse mundo difícil, complicado, onde convivemos com sentimentos antagônicos, temos que desenvolver estratégias e até mesmo armaduras diante de mil obstáculos com que diariamente nos defrontamos.
E haja superação; e haja esperança; e haja perseverança! 
Não está fácil para ninguém, parece que de repente todo mundo despedaçou-se frente às dificuldades e contempla os dissabores muito mais que os prazeres.
Os resultados dependem sempre de nós. De nossa dedicação, de nosso investimento, da qualidade de nossas ações. Se só reclamamos e esperamos, nada vai alterar para melhor. Cabe à nós buscarmos o rumo de nossa história.
Quero passar pela vida 'flutuando', sem envolvimento com nada do que me atinge, ou quero fazer diferente? Tenho perfil de vítima ou de agente? Quero viver ou somente existir?
Na vida temos disponíveis antídotos para nossos males, distrações para nossas tristezas, aventuras para nossa alma! Dispomos da arte, em especial do cinema que tanto nos chama a refletir sobre a vida (a nossa própria). 
Quando 'fechamos' com um projeto de felicidade, dificilmente desviamos do caminho e esmorecemos; focamos em frente e seguimos porque temos um compromisso a ser desenvolvido, uma meta a ser alcançada. 
As pessoas que têm vocação para serem felizes, conseguem enxergar um colorido em meio ao cinza. São capazes de alcançar notas mais altas, são hábeis em encontrar o que realmente lhes interessa e desprezam totalmente o que atrasa seu caminho em direção à seus objetivos. Munidas de 'armas' emocionais, ficam naturalmente mais preparadas para superar os desafios em meio à um turbilhão de nãos e 'senãos'   existentes na vida.
Sabemos que é praticamente impossível experimentar um estado completo de felicidade, mas temos plena condição de gradualmente desenvolver um caminho para ela. Não podemos ser dependentes de circunstâncias externas favoráveis porque dificilmente elas sempre existirão. Muito pelo contrário; muitas vezes contamos com um exército do contra; pessoas que 'puxam o tapete' estarão sempre à postos para gerar instabilidade em nosso cenário. Vamos permitir ou vamos reagir  e delimitar de forma assertiva e competente nosso espaço? "Daqui para a frente, é comigo, vade retro"! 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Sem Medo De Errar



A vida nos coloca algumas vezes (ou muitas) situações onde não conseguimos imaginar o resultado de nossas ações. Quando acontece dessa maneira, o que temos que fazer? Parar, recuar, ou avançar, mesmo sem ter noção de qual será o resultado?
A imobilidade definitivamente não combina com resultados positivos, ou até mesmo, simplesmente, com resultados. Se eu paro, nada vem. Começar de alguma maneira será bem vindo. Nossa mania de tudo controlar nos tira a perspectiva de agir quando não temos indícios do que ocorrerá. Para completar, sempre achamos que não estamos prontos. Mas o que é 'estar pronto'? 
Estar pronto seria experimentar a sensação de segurança, de que 'tudo vai dar pé'? Possivelmente! Mas, fazendo uma analogia com a etimologia da frase, se entrássemos acidentalmente em um rio, e não déssemos 'pé', ficaríamos parados e nos afogaríamos, ou tentaríamos nadar e nos salvar? 
É isso! Nem sempre estar pronto é dar pé... Na vida temos que ser ousados, agentes de nossa própria história e não vítimas desprotegidas esperando condições favoráveis para agirmos, para crescermos, para nos desenvolvermos. Elas, as condições, podem nunca chegar. 
Errar, como diz o antigo ditado, é humano. É possível e talvez provável. O que não devemos é engessar diante da possibilidade de erro (que inclusive, pode nem acontecer). Encolher diante das dificuldades, esconder-se quando não há um caminho aberto. Às vezes, vamos precisar desbravar. 
Quando começamos, a tendência é nos sentirmos fortalecidos; passamos a admirar nosso 'feito'. Conseguimos alcançar novas possibilidades e assim prosseguir.
Só erra quem faz. Mas também, só acertará quem um dia ousou tentar!

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Tem Alguma Coisa Estranha...



...Quando não podemos mais contar com nossos recursos próprios para sair de certas situações...
...Quando primeiro pensamos e usamos algum artifício externo, antes de acionar o que temos à nossa disposição, guardado em nós...
...Quando acreditamos na pseudo felicidade oferecida em frascos...
Claro que o papel dos medicamentos na busca e manutenção da saúde é indiscutível. Têm seu mérito e indicação. Mas, o que dizer quando antes de qualquer ato, mesmo um diagnóstico mais cuidadoso, mais estudado, logo lança-se mão das chamadas pílulas da felicidade?
Será que não incorremos em um erro quando, antes de mais nada, submetemos e somos submetidos ao arsenal farmacêutico disponível atualmente para 'curar' desde uma corriqueira dor de cabeça (na maioria das vezes 'curável' com um simples banho ou dormida) até uma dor 'na alma', uma tristeza, um abalo que nem se configurou como depressão? Por que somos apressadinhos em assumir o papel de desprotegidos de nós mesmos e entregues ao poder curativo dos medicamentos? Será que somos tão frágeis, tão refratários à nosso próprio poder de restabelecer o equilíbrio buscado, que atua no controle de nossas emoções e blinda o aparecimento de várias doenças psicossomáticas?
Vivemos na época da urgência. Rapidez e eficiência são palavras de ordem. Ordem que destrói, que fragiliza, que faz acreditar que somos meros objetos, vítimas em nossa própria cegueira de nós mesmos. Quanto mais nos distanciamos de nosso auto-conhecimento, mais expostos ficamos ao controle de agentes externos e das próprias 'doenças' que nos acometem.
Qualquer evento nessa área, é logo 'medicalizado'. Não conseguimos conectar nossos sintomas, nossas dores, à nossa vida. Somos dominados pela lógica cartesiana que nos faz duvidar de tudo aquilo que é meramente sentido. O 'sentido' vira suspeito. 
E assim, induzidos e dominados pela urgência que temos em nos recompor, atropelamos nossa condição de reagir, de melhorar, de curar. Dominados e cegos pela pressa de voltar a pretensa 'normalidade', engolimos nossas bolinhas milagrosas, acreditando que amanhã é um outro dia e tudo será melhor.
Da próxima vez que você for assolado por alguma dor, física ou não, dê uma chance às 'evidências do que não é visto' (a frase contraditória é proposital, um exercício à interpretação e à crítica). Nossos sentidos não erram!

sábado, 7 de setembro de 2013

Consumo Exagerado


Por que consumimos muito? O que nos estimula a comprar coisas que nem precisamos e pior, nem desejamos?
Sem querer desprezar o 'bombardeamento' publicitário a que estamos expostos cotidianamente, seja na tv, parada em um semáforo, folheando uma revista, conversando com pessoas, navegando na internet e tantas outras situações que fomentam nosso desejo em ter, o consumo exagerado pode ser fonte e origem de inúmeros problemas. Primeiro porque vivemos em um planeta com recursos limitados, apesar de não querermos pensar nisso de forma a postergar essa discussão para nossos netos, quem sabe... Depois, porque muitas carências podem se esconder na fatura do cartão de crédito.
Como você gasta seu dinheiro, fruto de seu trabalho? Ele está a seu serviço, indicando-lhe escolhas agradáveis, resultando em prazer e satisfação ou lhe proporciona culpa e desespero? Você tem segurança em suas aquisições materiais, nos produtos e serviços que compra, ou está sendo teleguiada por algo o qual não tem nem percepção? Quantas coisas adquirimos sem ter utilidade e depois temos que descartar até para não ficar 'cultuando' visualmente o resultado de nosso impulso consumista?
Dinheiro não nasce em árvore; em geral ele é decorrente de esforço, de dedicação, de empenho, de tempo investido. Como tal, deveria ser mais valorizado, no sentido de nos acautelarmos em como usá-lo da melhor forma para que ele pudesse produzir riqueza...interior! Contentamento, satisfação, prazer, alegria, felicidade. Dinheiro ganho e gasto na medida certa pode ser fonte de desenvolvimento pessoal; sem trocadilho, pode agregar valor à vida! Dinheiro é mero instrumento, cabe perguntar a melhor forma que este 'instrumento' é utilizado para promover bem estar, saúde global, conforto. Sim, porque dinheiro não trás felicidade, como diz o ditado, mas produz tranquilidade e a falta dele pode produzir descontentamentos e frustrações.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Da morte, da vida.



Hoje presenciei uma cena muito triste: Uma mãe diante de seu amado filho morto. 
A dor em perder alguém que você viu nascer, viu dar seus primeiros passos, viu estudar, viu namorar, viu tornar-se homem, viu tornar-se pai, que era seu companheiro, seu amigo...
É muito difícil aceitar a morte de alguém a quem amamos; em primeiro lugar vem a incredulidade: 'isto não está acontecedendo'; amanhã, ao acordar aquela pessoa não estará mais lá; dela restam as lembranças; imagino que para uma mãe fiquem um sem fim de lembranças, lembranças sem fim...
A morte sempre espera sorrateira, em algum canto escondida, sempre surpreendendo; muitas vezes as pessoas não tem tempo - literalmente falando - de conviver de forma mais próxima com seus pares. Aqueles que estão ao nosso lado quase sempre e que fazem parte da nossa paisagem; a vida muitas vezes com suas inúmeras demandas, seus inúmeros compromissos, nos tira da rota e ficamos distantes de pessoas que nos são importantes. É a tal realidade nua e crua. Esse é o ângulo de quem perde alguém.
E quem vai? Que lição a morte nos deixa?
A morte de alguém sempre faz pensarmos em nossa própria vida; no paradoxo que é estarmos aqui e agora e de repende, sumirmos. Quantos projetos ficam interrompidos, quantas coisas a serem ditas, quanto amor a ser vivido. 
Como levamos nosso dia, como levamos nossa vida? Estamos fazendo algo que nos melhore, nos faça felizes, que nos permita transitar com fluidez diante das pessoas com quem nos relacionamos? Ou estamos vivendo um dia atrás do outro, e só? Estamos nos permitindo viver ou apenas existimos?
A maneira como levamos a vida indica o que a morte pode representar. O que fazemos com nossa vida pode ajudar a aceitarmos nossa própria morte. Sim, porque não adianta disfarçar, ela é irrefutável! Um dia ela fatalmente ocorrerá.
Se estamos aqui de forma mais completa, se temos consciência de nossos movimentos diante do que nos cerca (coisas, pessoas, trabalho, relacionamentos, situações, dificuldades, prazer, dor) temos mais chance de aproveitar nossa estadia. Do contrário, estamos perdidos em meio a tantas outras coisas que não têm nenhuma importância.
A morte nos leva a pensar em como podemos ser 'pequenos'; em vários sentidos. Pequenos porque aí não temos ingerência, mesmo com todo o dinheiro e poder que possamos ter. Ouço muito, com ênfase, certas pessoas: 'Minha casa, meu carro, meu isso, meu aquilo...'. Cabe aqui pensarmos, meu até quando? 
Viva sua vida hoje; viva sua vida agora, pois na verdade essa é a única que pode, garantidamente, ser vivida. O logo mais...

domingo, 25 de agosto de 2013

Os Culpados



Assombrados pela tragédia que acometeu toda uma família - os que foram e os que ficaram - em São Paulo, nos perguntamos sobre as razões para tal.
Pensando na hipótese, ainda em comprovação, de que uma criança de 13 anos decidiu terminar a história aparentemente feliz de uma família, buscamos causas que possam explicar o ocorrido.
Em primeiro lugar, filhos são sempre vítimas. Independente de sua condição física, psicológica ou mental. Adultos deveriam lançar olhares mais cuidadosos sobre eles.
Diferentemente dos animais, seres humanos escolhem procriar. Crianças não podem ser consideradas acidentes. Não entramos no cio e por necessidade copulamos com o primeiro que aparece dando termo a uma gravidez irresponsável.
Embora há muito negada pela igreja, a sexualidade humana envolve basicamente desejo. Filhos nunca deveriam ser resultado de um 'ataque de tesão'. Para isso existem uma infinidade de métodos contraceptivos inclusive disponíveis no Sistema de Saúde. Resguardados os casos de desinformação de pessoas em condições especiais de vida, onde procriar continua sendo como no tempo de 'Adão e Eva', grande parte do que ocorre nessa direção parece ser fruto de irresponsabilidade.
Sem querer desviar muito, mas entrelaçando situações, voltando à família Pesseghini, muito há a esclarecer. O que teria motivado uma criança supostamente cuidada e amada por seus pais a ter cometido tal insanidade? Seria ela, a própria insanidade (da criança) a razão? Influência da violência à que ela estava sendo exposta pelos jogos de videogame?  Influência da violência e do medo à que todos nós estamos expostos a todo momento? Influência da desatenção de seus pais, até mesmo por uma louca rotina de trabalho muitas vezes enfrentada por causa da existência deles?
Questionamentos diversos deveriam nos fazer perguntar porquê nossas crianças nascem. Temos um mínimo plano para elas? Estamos nós também, minimamente preparados para atendê-los em suas necessidades de amor, cuidados, atenção, educação e tudo o que envolve a criação de um filho? São muitas as interrogações.
Aqui, diante de tantas indagações, não corro o risco de ser leviana; apenas uso o exemplo dessa tragédia, para que todos nós, responsáveis pela 'construção' dessas pessoas tão especiais que são os nossos rebentos, possamos analisar. Afinal, somos todos culpados!


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Relacionamentos Descartáveis



Hoje vivemos o momento do descarte. Parece que ninguém mais está disposto a contemporizar, a rever, a entender. Tomados pelo imediatismo, busca-se soluções rápidas para todos os tipos de conflitos. Ninguém mais está inclinado a ouvir, a ceder, a tentar olhar pelo prisma do outro.
Em uma sociedade onde impera a oferta do prazer imediato, descartamos facilmente o que nos causa qualquer pequeno nível de insatisfação.
Como vivemos na cultura da não-reflexão, tudo o que demanda um pouco de esforço para entender, parece ameaçar. "Para quê vou me dar esse trabalho?" Next!  E assim a fila anda. E rápido! E avança-se para uma próxima etapa, um próximo relacionamento. Porém, o que se está levando é a antiga pessoa cheia de resquícios de insatisfações anteriores não trabalhadas, funcionamentos que deveriam ter sido explorados, situações que deveriam ser entendidas. As pessoas não se olham e não se permitem olhar.
Inúmeras vezes, em minha prática, atendendo casais, percebo a incapacidade de ambos fazerem este tão necessário exercício, fundamental não para uma convivência harmônica, mas sim para uma convivência feliz. Porque pouco importa casais não brigarem e viverem um relacionamento morto - de tudo -. Qual o mérito que existe? Nenhum! Lembrando Afonso Romano de Santana: "Existem casais 'harmônicos', (grifo meu), que vivem 25 anos lado a lado, dormindo juntos, na mesma cama, e um não sabe o que o outro sonha". 
Não existe nenhum impedimento em 'deletarmos' (para ilustrar bem o que ocorre hoje), pessoas de nossa vida. Mas, até para separar, temos que 'separar bem', conscientemente de que é isso que queremos e que todas as possibilidades para reverter a situação já foram tentadas. Caso contrário, corre-se o risco de 'trocar seis por meia dúzia'; daqui a pouco estamos repetindo os mesmos erros com nova figurinha.
No conflito reside muitas vezes nossa chance de crescer, de melhorar, de seguir adiante com novos e melhores propósitos. Se fugimos de encarar nossos problemas, se não nos inserimos no processo, fica difícil avançar; situações negativas serão sempre neuroticamente repetidas em um desgaste sem fim. Perpetua-se assim, uma busca incessante por situações adequadas, ideais, irretocáveis. Cabe refletir: Será que elas existem? Ou a vida na sua dinâmica comporta contrastes que, apesar de aparentemente trazerem uma carga negativa, estresse, aborrecimentos, contribuem para nossa realização, tirando o tédio das coisas pretensamente perfeitas?
Concluindo: Na verdade, é nossa incompetência em lidar com a frustração que nos torna imensamente infelizes.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Criança eu?



Quantas vezes fazemos coisas infantis? Mesmo depois de adultos, protagonizamos episódios dignos da primeira infância. Quando algo não sai da exata maneira como planejamos (mesmo que esse plano estivesse só na nossa cabeça), batemos o pé, fazemos biquinho e choramos. Ou nos revoltamos. E punimos. À nós e aos outros, protagonistas neste cenário de incompreensão.
Comportamentos assim aparecem pelo fato de inconscientemente acharmos que o mundo tem que se adaptar à nós e não o contrário. As pessoas existem para nos atender em nossas demandas mais íntimas; Detalhe: Elas não sabem disso, pois temos a pretensão de que o outro tem que adivinhar nossos desejos. E por essa razão, nem nos esforçamos em comunicar a que viemos, o que queremos e se temos condições de apelar para conseguir o que queremos. Nem sempre o que eu quero é exatamente o que o outro quer, ou no mesmo instante que o outro quer. 
Desde pequeno, o bebê encontra uma forma particular de se comunicar com a mãe a fim de obter o que para ele naquele momento são os bens mais preciosos: Alimento, carinho e aconchego. À medida que o tempo passa, outras formas de comunicação vão surgindo, já com o uso da linguagem falada, dos gestos, do toque e com a exploração de todos os sentidos.
Na idade adulta, essa comunicação com as demais pessoas torna-se mais sofisticada; fazemos uso até de linguagem subliminar, onde entra em cena nosso inconsciente, porém, quando queremos ser entendidos em nossas demandas, devemos ser totalmente explícitos; não esperar que o outro tenha a 'grandeza' de adivinhar o que queremos ou mesmo o que nos aflige. A comunicação limpa, sem interferências (gritos, agressões, caras e bocas etc...) continua sendo a mais eficaz.
Não ter medo de encarar as circunstâncias, fazer uma leitura das situações, ser verdadeiro consigo mesmo, garimpar os próprios defeitos. Essas são atitudes adultas que nos impulsionam em direção à desvendar o que ainda está latente, a compreender a si e ao outro, a avançar.
Quando perdermos tempo e energia nos chateando com o que não saiu do nosso 'jeito', esquecemos de crescer, de melhorar; nos perdemos em lágrimas, desenvolvemos uma postura perdedora onde ninguém ganha, onde predomina a eterna carência daquela criança que habita em nós e que por vezes teima em reaparecer. 


De Quanto Precisamos Para Viver Felizes?



Achei que o título talvez não expressasse o que realmente eu queria dizer. Refiro-me não exatamente à valores, dinheiro, quantitativos, mas sim a tudo aquilo que imprime sentido à nossa vida.  
Muitas vezes almejamos tantas coisas e nem sabemos bem o porquê. Somos influenciados pela publicidade, pelas artes, por outras pessoas, pelas demanadas dos filhos e por tantas outras situações que nos seduzem e criam em nós expectativas nem sempre genuínas. O que eu quero algumas vezes não vem 'de dentro; 'de mim'. Parece ser uma junção de desejos a que estou sendo submetido a toda hora e acabo por absorver. Daí a sensação de vazio ou de 'pouco acrescentou', diante de uma nova conquista. Quando o desejo não é puro, não tem a minha identidade, sua realização cai no vácuo. Tudo fica muito vazio. Do nada pra lugar nenhum.
É importante estarmos sempre atentos, na tentativa de perceber o que nos move, o que queremos, o que precisamos. Será que preciso de uma casa enorme, de um carro do ano, roupas caras, cremes a preço de (e com) ouro? Do que me alimento?
Não falo aqui do alimento concreto, aquele que nosso corpo demanda para termos saúde, para que nosso organismo funcione. Falo aqui do que alimenta minha vida, meus projetos, minhas metas, meus relacionamentos. Será que não sonhamos um sonho que não é nosso? Será que não abrimos mão de buscar da forma mais autêntica possível o que nos traria aquela pontinha de felicidade interior que de tão particular, jamais seria possível ser relatada?
Às vezes parece que vivemos mais para os outros do que para nós mesmos. Percorremos uma estrada para demonstrar algo que no fundo de nada nos vale. O valor das coisas é o valor que imprimimos à elas. É uma tarefa subjetiva. O que você valoriza pode não ter o menor valor para outra pessoa. Se conseguimos identificar do que temos fome, do que temos sede, o que realmente nos vale nessa vida, poderemos, sem hipocrisisia, sem se preocupar com o 'vizinho', sermos verdadeiramente felizes!

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Viver Dá Trabalho!



Queremos muito que certas situações aconteçam em nossas vidas, mas até que ponto nos esforçamos nessa direção?
É fácil sonhar acordado mas, para transformar o sonho em realidade, o que se faz?
"Todos os dias quando acordo...", faço o que?
Sonhar é para a noite; durante o dia temos que ir em busca de realizar o que foi sonhado.
Sair da inércia, do marasmo que muitas vezes assola nosso ser não é fácil. Tem-se que romper com a preguiça, a indolência, o 'não sei o que fazer'. Será que todo mundo sabe o caminho certo a seguir, ou vamos 'tateando' até encontrá-lo? Ter dúvidas é razão suficiente para não iniciarmos algo ou mesmo desistirmos antes de tentar?
Quando tentamos, como um primeiro passo, investir em uma mudança que julgamos ou somente intuímos ser necessária, estamos rompendo com o que está confortavelmente estabelecido mas que não nos dá a sensação de que está valendo a pena. Isso funciona para os relacionamentos inclusive! 
O comodismo é como uma erva daninha que vai se instalando sem percebermos e quando vemos já tomou conta de todo o entorno. O tempo, que poderia ser nosso maior aliado, torna-se um fardo; os dias passam, as noites chegam, mais sonhos, mais projetos, menos ação.
Reclamar e não atuar (mesmo com dúvidas, mesmo com a possibilidade de errar), nada ajuda; nos tornamos poli-queixosos para nós mesmos, cansamos nossos pares, involuímos.
Como começar, qual o ponto de partida para a mudança que queremos?
Não se muda sem ação, não se muda sem esforço e quase sempre não se muda sem desgaste. Tomemos como ilustração a mudança física, de um lugar para o outro. Se não nos mexermos, ficamos parados no lugar. Assim é também com as mudanças emocionais, as mudanças de vida; se parados estamos, parados permanecemos. Apenas constatar essa situação não vai fazer com que ela - a situação - sofra qualquer alteração.
O primeiro passo é reconhecer a necessidade de mudar; o segundo é ter o desejo de. Nem sempre desejo e necessidade caminham juntos, mas nesse caso, a falta de um dos dois compromete o movimento. O desejo é sem dúvida o maior propulsor de mudanças. Funciona como impulso que nos leva à uma nova etapa. Garante a satisfação, a felicidade. Apenas saber da necessidade quase em nada ajuda. Precisamos estar movidos por algo maior para seguir adiante.
A etapa do reconhecimento da necessidade é a primeira e a que vai abrir espaço para o que terá que vir depois. Nunca sem inconvenientes, mas sempre com a sensação de que estamos, através da mudança, gerando vida.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Viver E Deixar O Outro Viver; Viver Bem!




Todos os dias, ao atender pessoas, defronto-me com uma questão que invariavelmente permeia as relações entre as pessoas, independente do vínculo que as une. Aqui ou ali, em algum momento ou circunstância, as pessoas são agressivas com seus pares. Utilizam palavras cortantes, seja por sua forma ou por seu conteúdo. Por que? Por que, algumas vezes ferimos com palavras mal colocadas ou inoportunas pessoas que dividem a vida lado à lado conosco? Por que, diante da rotina sufocante, esquecemos as pequenas gentilezas que tornam nossa vida e a dos demais, leve?
Confundimos quando achamos que temos que dividir nossas insatisfações com quem nos cerca. Somos assolados por problemas e despejamos no nosso próximo mais próximo nossas "barras"; queremos inconscientemente dividir a carga de nossa vida com quem está ao lado. Pensamos que o outro pode ser depósito de nossas mazelas, como se tivéssemos inconscientemente que punir quem nos ouve, quem nos olha.
Cada um deveria desenvolver a plena consciência da necessidade de se enxergar para através do entendimento do que está acontecendo no momento e assim ir atrás da solução adequada e não ficar deslocando e projetando para quem não criou a situação negativa, o desagrado. Esperamos do outro a compreensão, o entendimento, o acolhimento total de nosso penar. Dividir as dores, preservar para si apenas os sabores.
Quando conseguirmos entender que cada um é responsável pelo seu próprio movimento na vida,  por suas dores e suas delícias, inclusive nós pelos nossos, tudo ficará mais claro e assim poderemos definitivamente praticar o "live and let live"!

domingo, 14 de julho de 2013

Ela, De Novo.



Uma palavra, um gesto, um olhar, uma frase completa. Percebo que a chamada felicidade pode estar contida nos simples fragmentos do dia a dia.
Silenciar a alma e escutar o vento gostoso que baila ritmicamente sem incomodar, trazendo uma absoluta sensação de conforto e bem estar pode ser tudo o que precisamos para iniciar o processo de valorização de nossa vida.
Quantas vezes desprezamos estes momentos em função de sua característica básica, a simplicidade? Quantas vezes nos deixamos levar pela rotina angustiante e deixamos de nos alimentar desses elementos que recebemos gratuitamente?
Podemos ter tudo e não sermos capazes de perceber porque sempre estamos valorizando ‘o pontinho preto no canto da sala’. Se fizéssemos de vez em quanto um exercício de busca das condições que nos alimentam a vida poderíamos dela melhor desfrutar.
Complicamos muito; complicamos sempre. Deslocamos nosso desejo para complexidades cada vez maiores e garimpamos continuamente problemas. Insistimos em nos desviar do que realmente interessa. Valorizamos os por-menores e deixamos de focar nos pontos positivos da situação. Insistimos no erro; não aprendemos com eles. Reproduzimos neuroticamente o que já nos trouxe sofrimento antes. Persistimos na cegueira!
Preocupamo-nos além da conta. Supervalorizamos e potencializamos nossas ‘derrotas’. Esquecemo-nos de privilegiar o momento e projetamos tudo para um futuro que nem sabemos se de fato chegará.
Ultrapassamos os nossos limites. Desejamos os desejos dos outros. Não avaliamos o que realmente nos alimenta, o que importa, independentemente do que algumas pessoas ou a própria sociedade nos impõe como sendo saudável, admirável, correto. Almejamos um corpo impossível, um sonho impossível, uma vida inventada.
Mas mesmo assim, há uma salvação para nós. Amanhã sempre será outro dia. Um novo começo. Podemos encontrar, com um mínimo de esforço, respostas razoáveis para nossos movimentos nessa vida. Temos a chance de nos olhar sem medo, desvelar o que escondemos, reconhecer o que nos engessa diante de tanta coisa que poderia e deveria ser feita. Podemos parar de adiar nosso encontro com o que pensamos ser a felicidade.


Sábado Salinopolitano


Fotografia do Céu Cinza 
Hoje amanheceu jururu! (O world não marcou essa palavra, ela pertence ao dicionário informal). Algumas vezes esse panorama cinza é belo. Quando estamos em paz, conseguimos apreciar até a incoloridade. Essa ele marcou como ‘incolor idade’, o que aparentemente não faz nenhum sentido (mas eu quis grifar propositalmente para denotar o ‘sem cor’). Detalhe: Tanto ‘jururu’ quanto incoloridade (essa, mesmo sem existir) são duas verdadeiras aberrações fonéticas, muito feias mesmo!
Cedinho, dentro do carro escutei três lindas músicas cantadas pelo Chico. Cecília (esta escrita em parceria com Luiz Cláudio Ramos), Sob Medida e Aquela Mulher. Belíssimas! Totalmente diferentes de todos os sons escutados nesta cidade nas férias de julho (funk, brega, sertanejo e outras). Nada contra, dependendo do momento, mas realmente aquelas músicas do Chico, realmente estavam combinando com o que viria a seguir, a chuva!
Well, a chuva trás uma sensação de calma. Ela está delicada, quase como uma pulverização de água caindo do céu. Combina com o silêncio, com a reclusão deste dia. Buscamos o sol, o agito, a praia e nos deparamos com este cenário totalmente diferente, mas, para mim, não menos atraente. Escrever, ler, pensar, admirar, captar. Esses verbos estão podendo ser usados na impossibilidade de usar os outros. Para melhorar vai um abraço com todos daqui a pouco, quando resolverem acordar.
Dias assim nos levam a desfrutar a companhia das pessoas que estão nos circundando. E comer, e beber, e rir e depois dormir...
Outra característica atrativa da situação é o inesperado, o surpreendente, literalmente falando. “Amanhã vamos na barraca do Seu Miranda do kit para comer aquela anchova com ervas que só a Sueli sabe fazer”. Que nada! Só se for para congelar andando do lugar onde o carro pode parar até a barraca. Ou de repente, quem sabe vai rolar, com chuva mesmo? Pelo menos é diferente, inusitado; ficarão certamente as lembranças para rechear alguma conversa, em outra ocasião, para rirmos e consolidar nosso espírito aventureiro, que nos tira da mesmice e do comodismo do status das mesmas ‘figurinhas marcadas’. 
Esses momentos marcam nossas vidas. Armazenamos com carinho nas estantes da nossa alma, cada pedacinho vivido. Estes, juntos, construirão nossas melhores lembranças. Mais uma vez, a simplicidade está presente, dando o tom; mostrando e provando que, para ser feliz não precisa muito. Para ser feliz precisa somente e primeiramente existir e depois permitir-se viver. Faça chuva ou faça sol. Detalhe: Parece que o sol vai vir, mostrando também que cada momento é único e deve ser curtido em sua plenitude, até porque, de repente, tudo pode mudar.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Felicidade (dos outros) Incomoda?




Algumas vezes percebo que certas pessoas reagem com certo desconforto diante da felicidade alheia. É como se a felicidade do outro causasse profundo incômodo ou evidenciasse de alguma maneira o "não estou sendo feliz".
Não há como comparar o que eu sinto, o que eu desfruto, como que o outro sente, o outro desfruta. Naquela linha de que 'a grama do vizinho é sempre mais verde', algumas vezes pessoas indispõem-se com o contentamento dos outros. Enquanto desvio meu olhar para enxergar os êxitos do outro, não concentro-me em minha vida, desprezo o que me faria  sentir melhor, distancio-me de potenciais projetos de desenvolvimento individual.
Cada um tem que procurar dentro de si mesmo seu caminho. O que quer, o que busca. Só assim começará a entender o perigo de se estabelecer um padrão auto destrutivo de funcionamento, quando o que está externo à mim, passa a ter maior importância do que meus conteúdos internos. Projeto para fora o que me faria bem. Aprecio no externo - o outro - meus desejos e como eles estão na vida do outro, não os realizo, ficam assim na impossibilidade total de desenvolver-se. 
Pessoas nessa condição acabam por instalar um quadro de extremo sofrimento psíquico pois convivem com uma sensação de vazio interior onde não conseguem valorizar-se, sentindo-se sempre inferiores em relação aos demais. Seu resquício de satisfação vem de gozar com a felicidade alheia. A extrair prazer de realizações que não são delas e as delas, estas nunca existirão.
A felicidade do outro incomoda na exata proporção de minha infelicidade, ou ausência de felicidade. 
Quando estamos bem, queremos que o  mundo à nossa volta sorria; Se todos fossem lindos, maravilhosos, felizes, bem sucedidos, amados, ricos, descolados, e reunissem todos os melhores adjetivos, melhor seria para nós. Ao contrário, quando estamos mal com o mundo e com a humanidade, tudo fica cinza; o colorido que insiste em se fazer notar na vida de meu best friend, a mim dói. E assim segue-se a vida, perdidos em um objetivo vazio, igual ao vazio que se instala na vida quando não se consegue identificar e estabelecer o que se quer. É mais fácil olhar a grama do vizinho, sempre mais verde, do que cuidar para que o amarelo de nossa grama se recupere.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Os Atos Falhos De Todos Nós



Logo da Revista OPS!


Atos falhos são manifestações inconscientes. Ocorrem sob forma de incidentes aparentemente sem sentido, como lapsos, esquecimentos, erros de expressão, trocas de nomes, ou quando, sem querer, falamos algo sem a intenção de querer dizer aquele 'conteúdo'. 
Os atos falhos definitivamente quase nunca (para não ser determinista) são insignificantes. Sempre têm uma representação sob forma de memórias ou emoções recalcadas no passado. O ato falho não é objeto específico de tratamento em um processo psicoterápico, pois ele não é considerado um problema. Ele se manifesta representando o que está escondido, negado, recalcado e como manifestação inconsciente tem a sua importância. Nunca pode ser desprezado, no sentido de se achar que ele não significa nada.
A terapia é um processo. Necessita de tempo. Não mais daquele tempo dispensado na época de Freud. Hoje as pessoas tem facilidade em falar. Têm necessidade de se expressar; 'abrir o verbo', 'abrir a alma'. Por isso os procedimentos são mais breves e as 'problemáticas' quando desvendadas, resolvidas, são substituídas por outras também existentes, porém mais latentes, menos superficiais.
O psicoterapeuta ou analista, em sua prática cotidiana, fica ligado às expressões manifestadas pelo paciente para tentar conduzi-lo à interpretação de seu momento, de sua situação, de sua vida. A realização de um insight é sempre um momento único, leva o processo 'pra frente'. Elucidados em situação terapêutica, onde em um ambiente seguro e propício os insights se dão, a interpretação do que está 'por trás' de um ato falho é libertadora. Conduz a pessoa à novas descobertas, avançando em seu auto conhecimento. 
Atos falhos não são privilégio de poucos. Todos nós em algum momento os expressamos. De uma forma mais corriqueira, em algum momento, até por situações sociais, omitimos alguma opinião, seja para não chocar ou não machucar alguém e, quando vemos, somos 'traídos' pela manifestação inconsciente através de um ato falho. 
Outra condição inequívoca para a presença do ato falho é devido a todos nós termos um passado. Ele (o passado) nos acompanha, e a existência dele, por si só, já justifica a presença de atos falhos em nossa vida. É se valer da interpretação para, descobrindo o que estes significam, conhecer melhor à nós mesmos.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Desejo Versus Necessidade





Temos a pretensão de ter tudo. Somos eternos insatisfeitos. Passamos a vida sem entender que isso acontece porque convivemos com o lugar da falta. Aquele vazio que jamais será preenchido. Ou,  se momentaneamente preenchido, logo será substituído por outro vazio.
Apesar de desde crianças convivermos com a diferença entre desejo e necessidade, chegamos a idade adulta ainda fazendo muita confusão na hora de separar um do outro.
Para a Psicanálise o desejo é psíquico. Nos impulsiona na vida a realizar nossos sonhos, nos tira da imobilidade. O desejo nos direciona às fantasias. A necessidade nos direciona à realidade. O desejo nunca é completamente realizado, no sentido que aquele é imediatamente substituído no hiatus de tempo entre sua realização e a imediata instalação de outro. A necessidade é saciada. O desejo jamais. Quando temos sede, temos a necessidade de beber água. Esta (a sede) é assim saciada. Desejamos um amor, uma viagem, um carro novo. Quando os temos, logo começamos a nos 'desencantar' querendo sofisticações, mudanças, cheiro de carro novo de novo e vontade de ir à Roma mais uma vez. 
Parece complicado  mas quando nos atemos a observar, conseguimos identificar as particulares de cada um. E a identificação destes nos habilita a melhor entender nosso funcionamento. Nos ajuda  também a 'sossegar' quando algo não sai do jeito que queríamos. Conseguimos assim dar um significado novo ou um re-significado para nosso momento.
Vai parecer trocadilho, mas a necessidade de desejar alimenta nossa vida, psiquicamente falando. Sem desejar, estaríamos mortos. Plagiando Nietzsche, 'o que nos falta nos fortalece'. Para interpretar.

sábado, 22 de junho de 2013

Os Donos Do Saber


                         
                            MAS NÃO AO




Em seu artigo 4º, o projeto de  lei que institui o Ato Médico, prevê que constituem atividades privativas dos médicos a formulação de diagnósticos nosológicos e respectivas intervenções terapêuticas. 
Alguns profissionais da Medicina, por força de suas especialidades, realmente estariam habilitados a prestar pareceres e diagnósticos em algumas áreas. Por exemplo, um Psiquiatra em tese estaria habilitado a reconhecer uma condição emocional passível de acompanhamento psicoterápico, um endocrinologista provavelmente estaria apto a diagnosticar um transtorno alimentar e indicar tratamento, mas nunca prescindindo dos profissionais reconhecidamente formados para, desde o diagnóstico, acompanhar esses pacientes, no caso psicólogo e nutricionista. 
O projeto do Ato Médico caminha na contramão da história. Em 1988, muito se avançou no país na área de saúde, pelos princípios de universalidade e integralidade do SUS- Sistema Único de Saúde. A filosofia do SUS é perfeita, onde uma equipe multidisciplinar trata e cuida de um ser humano que é único como pessoa e ao mesmo tempo plural em suas necessidades de saúde integral. A troca de saberes específicos de cada área, acabaria por enriquecer o conhecimento de todos os profissionais envolvidos no processo, porém, respeitando sempre os limites mais absolutos de cada área. Assim ganhariam os pacientes, assim  ganhariam os profissionais. 
O Ato Médico anula por completo a noção da Psicossomática, visto que em alguns trechos, demonstra tornar a doença como algo estritamente orgânico, em uma visão reducionista do ser humano, entendimento ultrapassado desde 1939 quando esta - a Psicossomática - vem sendo cultivada no meio científico através de esclarecedores estudos sobre a multiplicidade de fatores envolvidos no processo de adoecimento. 
Indiscutivelmente, a maior aberração do Ato Médico é realmente dispor que o diagnóstico nosológico e a indicação de um posterior tratamento sejam competências exclusivas de médicos. Esse é sobretudo um desrespeito à preparação de profissionais de áreas afins da saúde, que tiveram, tal como os médicos, sua formação criteriosa e específica em suas áreas particulares. O médico não pode ser considerado o dono do saber. Será que ainda não entendemos que não existe absolutismo quando nos referimos à 'ser humano'. Eu, se médica fosse, teria vergonha desse despropósito. 
Para 'adoçar' o conteúdo do texto, na continuação do artigo 1º parágrafo 2º, dispõe que: "não são privativos dos médicos os diagnósticos psicológicos, nutricional e sócio ambiental e as avaliações comportamental, e das capacidades mental, sensorial, percepto cognitiva e psicomotora".
Essa lei pode influenciar inclusive aos pacientes que podem passar a uma condição de encolhimento, de um 'quase nada' em relação ao conhecimento de sua situação de saúde/doença. Nós da Psicologia, há muito sabemos e praticamos que o detentor do conhecimento sobre si é a própria pessoa que vive e  sente. Nós funcionamos apenas como veículos, como instrumentos facilitadores para a 'cura'. Desconhecer isso chega a ser patético.
Em muito já tínhamos avançado ao admitir que médico não é Deus. Agora, com o Ato Médico, parece que o médico travestiu-se de deus. E infelizmente, com certeza, muitos maus usos serão feitos em nome dessa 'divindade'. É esperar e confirmar.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

"...Que Não Seja Imortal Posto Que É Chama..."



"Eles se amam de qualquer maneira, eles se amam e é pra vida inteira...", dizem os versos da música Paula e Bebeto, de Caetano Veloso.
Viveram um amor intenso, de completa sintonia, como o amor deve ser vivido. Uma vez um amigo me falou a respeito do encantamento do amor: "Não dava pra 'arriar' só 2 pneus, tinha que ser os 4?", referindo-se à característica avassaladora com que o amor lhe invadiu.
"O amor me pegou", diz a música Quando o Amor Acontece, de João Bosco. Tem o mesmo sentido da frase acima. É maravilhoso amar. É maravilhoso ter um amor. É maravilhoso poder viver um amor. Sim, porque algumas vezes o amor não pode ser vivido. Parece inacreditável, mas acontece! São os chamados amores 'impossíveis'. E às vezes é melhor que sejam impossíveis mesmo. Melhor do que promover sofrimento, quando por exemplo, não é uma condição que abrange na totalidade os envolvidos. Eu dou, ele recebe e devolve. Algumas pessoas abrem mão desse amor completo para suceder à migalhas de amor. Conheci uma pessoa que fez bodas de prata - 25 anos - com um homem casado (com outra). Não dá pra ser feliz assim.
Nossa vida contempla vários aspectos. O social, o profissional, o familiar, o financeiro, o amoroso e outros. Mas parece que o aspecto amoroso funciona como um regulador do psiquismo. Lembrando ainda do: "Parece que viu passarinho verde", que se refere a alegria que invade os apaixonados.
Amar é fácil, é natural, acontece. Relacionar-se é mais difícil. Demanda investimento, dedicação, conciliação. Quando vale a pena reunir todos esses atributos é só prosseguir. E não complicar. Recebo muitas pessoas em meu consultório 'mestres' em complicar o que é - ou deveria ser - simples. Inventam problemas, desgastam-se em pormenores e esquecem de aproveitar a situação, de viver o que lhes cabe no amor que lhes é oferecido pela vida. Sim, o amor é um presente. Sempre. Ouço essa frase muito assiduamente e acredito ser assim. Imagine o que é passar uma vida 'em branco', sem amar e sem amor. Ninguém quer ser protagonista de uma história assim. A propósito, a Paula e o Bebeto reais, que inspiraram a música, não ficaram juntos em um happy end, mas fizeram valer o "que seja infinito enquanto dure". (Vinícius de Moraes).

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Passado: Não Vivo Mais Lá!



O passado tem especial importância no tratamento analítico. Muito do que somos é explicado pelo nosso passado, considerando até mesmo o momento em que ainda nem existíamos. O relacionamento de nossos pais por exemplo, a espera desse filho que chegaria depois. 
O passado é assim valorizado para que através da análise dos fatos vivenciados, de como 'funcionamos' nessas ocasiões, possamos expandir-nos para o presente e alcançar um futuro mais efetivo e feliz. É objetivo da análise atuar nas reminiscências, no que ficou recalcado, no que ficou pendente, com o objetivo de libertar-nos em um momento posterior. Porém, na vida, ao contrário do processo analítico, o passado quando volta em demasia, o futuro não consegue se pronunciar tampouco o presente é bem vivido.
Você conhece pessoas que vivem de passado? Ou no passado? Quais seriam as razões? Excesso de felicidade, quando não conseguem se desfazer de velhas lembranças que lhes alimentam a alma? Ou simples dificuldade de atualizar a vida?
O passado certamente nos compõe, porém ele não deve funcionar como a etapa mais importante em nossas vidas. A etapa mais importante é o presente. O momento mais importante é o agora.
Atualizar a vida significa ir dia a dia checando nossos caminhos. Para onde estamos indo. Nossa vida está satisfatória ou estamos meramente acordando, trabalhando, comendo, existindo enfim?
Quando ficamos presos ao passado não conseguimos vislumbrar saídas interessantes. Estamos alheios à nossas possibilidades. Nos apegamos à algo que já ocupou um grande sentido em nossas vidas mas ficou para trás. E lá, naquele lugar, parece que não vai conseguir fazer muita diferença. O passado inegavelmente nos constitui mas temos um presente que precisa ser vivido em sua plenitude e mais uma vez, o apego ao passado atrapalha.
Lembrando um pouco os acumuladores que ao longo da vida vão criando um museu de objetos, os quais estão conectados à lembranças, quem se apega ao passado entulha a alma de trash dificultando a remoção de espaço para novas experiências, novas aventuras, novos sorrisos, novas vivências.
Assim, atolados em uma montanha simbólica de conteúdos mortos, não conseguem viver a vida, com toda a leveza que isso requer. Quanto mais acumulam, guardam e rendem homenagens à uma situação inexistente, proporcionalmente menos enxergam seu momento de vida atual. Seu hoje, seu agora. 
Não empobreça sua vida perdendo-se em lembranças; alimente-se delas para projetar novos sonhos, para viver o que existe agora e desenvolver material para o que virá - de bom - no futuro.

terça-feira, 28 de maio de 2013



Em todos esses anos de prática clínica, uma única vez recebi uma pessoa que tinha como finalidade ao fazer terapia "apenas" se conhecer. Todos os demais vieram por situações, sintomas, padecimentos. 
Quantas vezes já ouvimos falar que 'o corpo fala'? O corpo não só fala, como grita, e às vezes até agoniza!
Os sintomas surgem com a função de sinalizar que algo não vai bem. No plano psíquico, é o encontro do sujeito com algo que ele não consegue no momento dizer, não consegue expressar para si mesmo. Depressão, fobia, inibição, angústia, apatia, disfunções sexuais, sintomas somáticos que afetam órgãos, e outros tantos mais e inumeráveis. A interpretação dos sintomas é sempre subjetiva, levando em consideração que cada ser é único, com particular história de vida.
Chega a ser compreensível que no corre-corre da vida não priorizemos os nossos sinais. Eles se pronunciam bem precocemente quando algo não está de acordo com nossos desejos. Primeiro tentamos excluir, contornar, fugir, disfarçar, para só depois, em um momento posterior (quando a dor já está instalada) admitir que há algo errado e encarar (nem sempre).
Passamos a vida a adiar. Adiar nosso auto-conhecimento, a realização de nossos desejos, o enfrentamento de nossas angústias. Alguns chegam a ser tão bons nesse particular - o do disfarce -, que passam uma vida toda acreditando neuroticamente em uma condição de felicidade inexistente. Agem como atores que representam um papel muito bem ensaiado e portanto convincente de sua história. Como se suas vidas fossem uma interminável peça teatral, com vários atos e estes sempre simbolizam o que de melhor a vida pode oferecer. Mas no seu interior, é uma verdadeira tristeza, às vezes desintegração. Não passam no teste do quarto escuro. Imaginem ficar em um quarto sem luz, sem barulho, sozinhos com seus pensamentos e estes lhe levarem à uma inigualável condição de paz interior, nada o perturba, o momento e a vida são perfeitos. Este seria o teste. Pena que nós, pobres mortais, não tenhamos consciência de quão rápida é nossa vida, que, como disse o poeta, é um 'sopro'. 
Os sintomas surgem com a função de sinalizar que algo não vai bem. O sintoma sempre comporta uma verdade e por isso 'pede' uma interpretação. As pessoas tendem a achar no sintoma um problema; ao contrário, ele é muito mais uma solução. Se conscientes disso, conseguiremos viver, e não representar,  para nós mesmos e para os outros, no palco de nossa vida.
Meramente ilustrativo, pois não existe de forma alguma essa relação de causa e efeito (se assim fosse seria muito fácil), eis o texto abaixo (autor desconhecido, circula na internet). Lembrando: Os sintomas na sua representação e sua leitura são sempre subjetivos.



domingo, 26 de maio de 2013

Tire a Carranca!



Todos os meses ganho uma revista religiosa e na última que li tinha um artigo que falava sobre 'atitudes mentais que rejeitam a prosperidade'. Claro que em se tratando de uma revista de cunho doutrinário, voltada para a ideologia e filosofia daquela religião, as colocações refletem o pensar daquela doutrina, porém achei interessante a seguinte colocação: Uma cara carrancuda (assim mesmo) dificulta, senão impede a prosperidade. Chamou-me a atenção porque particularmente não suporto pessoas carrancudas, de mal com duas coisas: Com Deus e a humanidade. Farei aqui as minhas colocações, à luz dessa leitura, que além de interessante foi bem ilustrativa de uma realidade que nos cerca.
Fiz de cara (respeitando o trocadilho), a analogia com as carrancas utilizadas na proa das embarcações que navegam pelo rio São Francisco, famosas figuras do folclore nordestino. Pode-se falar tudo delas, desde convicções reais, que são adornos e que chamam atenção dos potenciais clientes ribeirinhos, até opiniões carregadas de misticismo como que elas têm o poder de espantar os 'maus espíritos' ou que atraem muitos peixes; porém, ninguém jamais pode dizer que elas são bonitas. Longe disso.
Assim sendo, as 'carrancas' das figuras humanas, ou seja, as pessoas carrancudas, começam por ser feias de se ver; nada atraentes para se aproximar. Um sorriso, uma face relaxada, sem as rugas representantes das rusgas da vida já seriam de fácil admiração. Logo, num impulso, dei razão à máxima da revista e ainda completei: Uma cara carrancuda não atrai nada; e não somente não atrai prosperidade. 
A explicação dada pelo autor do artigo Yoshihico Iuassaca seria que pessoas assim geralmente são portadoras de uma mente sombria, sempre com pensamentos negativos, de derrota, tornando com sua expressão de "cara fechada", o ambiente desagradável, afetando à si mesma e as pessoas à sua volta. Realmente, lembrei-me que conheço pessoas assim, carregadas, às quais parece que 'nenhuma paixão as diverte'; isso se algum dia elas souberam o que é uma paixão!
Foi fácil aceitar os desdobramentos dessa atitude, ou seja, que quando fechamos a cara, fechamos a alma, ficamos sem saída. Ficamos isolados em nossa dor; sozinhos; envoltos por uma aura de conteúdos negativos que concorrem para a situação parecer sem saída.
A intenção de viver é viver bem, ser feliz. Cara de mau humor não combina definitivamente com felicidade. Vamos identificar possíveis situações onde, talvez sem perceber ou mesmo querer, 'presenteamos' os outros com nossa 'carranca'. Vamos tentar sorrir, trazer leveza à vida; valorizar o fato de que podemos mudar o caminho e começar o processo de transformação de um rosto sombrio, carregado, em um rosto atraente, que convida a ser mirado (e isso independe de beleza física ou idade). Um rosto de aspecto hostil representa um portão fechado para tudo. Não só para a prosperidade como sugere o artigo.