Uma palavra, um gesto, um olhar, uma frase completa. Percebo
que a chamada felicidade pode estar contida nos simples fragmentos do dia a
dia.
Silenciar a alma e escutar o vento gostoso que baila
ritmicamente sem incomodar, trazendo uma absoluta sensação de conforto e bem
estar pode ser tudo o que precisamos para iniciar o processo de valorização de
nossa vida.
Quantas vezes desprezamos estes momentos em função de sua
característica básica, a simplicidade? Quantas vezes nos deixamos levar pela
rotina angustiante e deixamos de nos alimentar desses elementos que recebemos
gratuitamente?
Podemos ter tudo e não sermos capazes de perceber porque
sempre estamos valorizando ‘o pontinho preto no canto da sala’. Se fizéssemos
de vez em quanto um exercício de busca das condições que nos alimentam a vida
poderíamos dela melhor desfrutar.
Complicamos muito; complicamos sempre. Deslocamos nosso
desejo para complexidades cada vez maiores e garimpamos continuamente
problemas. Insistimos em nos desviar do que realmente interessa. Valorizamos os
por-menores e deixamos de focar nos pontos positivos da situação. Insistimos no
erro; não aprendemos com eles. Reproduzimos neuroticamente o que já nos trouxe
sofrimento antes. Persistimos na cegueira!
Preocupamo-nos além da conta. Supervalorizamos e
potencializamos nossas ‘derrotas’. Esquecemo-nos de privilegiar o momento e
projetamos tudo para um futuro que nem sabemos se de fato chegará.
Ultrapassamos os nossos limites. Desejamos os desejos dos
outros. Não avaliamos o que realmente nos alimenta, o que importa,
independentemente do que algumas pessoas ou a própria sociedade nos impõe como
sendo saudável, admirável, correto. Almejamos um corpo impossível, um sonho
impossível, uma vida inventada.
Mas mesmo assim, há uma salvação para nós. Amanhã sempre
será outro dia. Um novo começo. Podemos encontrar, com um mínimo de esforço,
respostas razoáveis para nossos movimentos nessa vida. Temos a chance de nos
olhar sem medo, desvelar o que escondemos, reconhecer o que nos engessa diante
de tanta coisa que poderia e deveria ser feita. Podemos parar de adiar nosso
encontro com o que pensamos ser a felicidade.
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