terça-feira, 26 de julho de 2016

A Doença É Você



Sempre falei para meus pacientes: 'não tenham raiva dos seus sintomas! Eles querem lhe mostrar algo que vocês não estão vendo!'
Há sempre uma 'boa intenção' por trás de um sintoma. O sintoma 'fala' o que a pessoa 'cala'.
A rotina do dia a dia, a busca pela tão almejada felicidade, muitas vezes nos impede de parar e avaliar nosso momento de vida. É como se ligássemos o automático e nos distanciássemos do tão necessário olhar sobre si mesmo.
O processo de reconhecimento de um sintoma nem sempre é fácil. Isso porque a maioria das pessoas confunde sintoma com doença. O sintoma é aquele alerta disparado quando algo na vida não vai bem; quando se está colocando para debaixo do tapete as insatisfações que estão assolando a vida; quando as emoções estão contidas e os desejos reprimidos.
Outra atitude que atrapalha o reconhecimento do sintoma são as formas precipitadas de tratá-los. Em geral, em um primeiro sinal de alerta, na primeira dor, a ação escolhida é abafá-la; ninguém está, inicialmente, disposto a decifrar as mensagens que o sintoma emite. Ao contrário, é comum querer rapidamente fugir da situação de desconforto; o procedimento é inverso, ou seja, usa-se toda a energia para escamotear os sintomas e então, só em último caso, depois de visitas intermináveis em especialistas médicos diversos e a realização de todos os exames sofisticados possíveis e ainda, da ingestão de um arsenal de medicamentos prescritos numa ação de ensaio e erro, é que se vai correr atrás do prejuízo, isto é, tentar entender a mensagem que o sintoma emite.
Muitas variáveis concorrem para essa situação. A primeira é que ninguém gosta minimamente de sofrer. Quanto mais rápido pudermos nos livrar de tudo aquilo que nos incomoda, melhor; tem o lobby da indústria farmacêutica, tem a opinião de terceiros, tudo isto adia o enfrentamento da situação, perde-se tempo, energia, esperança, dinheiro, mas tudo faz parte de um aprendizado, às vezes, o caminho aparentemente mais fácil não leva a bons resultados; às vezes, um certo grau  de sofrimento é necessário para conseguirmos mudar nossa maneira de enxergar nosso próprio funcionamento e também a própria vida.
A forma como tratamos nossas emoções define a facilidade ou dificuldade para o reconhecimento dos sintomas, condição primordial para o enfrentamento e remoção destes. A remoção não é o 'abafamento', a sumária exclusão; esta deve ser o caminho do entendimento de nossas verdades mais profundas, a cura! 

quarta-feira, 6 de julho de 2016

A Dor do Viver


Acabando cedo em um dia normal, por conta do mês de julho, liguei a tv e assisti uma reportagem que, entre tantas outras que assistimos todos os dias, me chamou atenção! Duas gerações de professoras (mãe e filha) falavam da depressão com que convivem. A mãe na faixa dos 50 anos e a filha na faixa dos 20. Sim, a moça tinha menos de 30 anos e já foi afastada do trabalho mais de cinco vezes por conta da depressão!
Fiquei refletindo sobre as possíveis causas da depressão da moça. É nela que quero me concentrar neste texto. 
Porque, tão jovem, a mesma já apresenta (visivelmente falando), tanta desesperança? Chegou a falar que não se imaginava voltando ao trabalho, ficando todas aquelas horas com aquelas crianças. Inevitavelmente pensei: 'será que ela deveria ser professora?'; 'será que ela gosta do que faz?'; 'tem habilidade, paciência, tranquilidade, para lidar com aqueles serezinhos naturalmente trabalhosos, por assim dizer?"
Sabemos que os professores estão entre as categorias profissionais mais desvalorizadas no país. Aliás, se pararmos para pensar um pouco acerca desse dado, ele explica muita coisa...
Baixos salários, falta de incentivo à uma melhor qualificação, reconhecimento precário, falta de condições adequadas e de material de trabalho, e muitas outras dificuldades enfrentadas por eles. Em um ambiente tão adverso, não é difícil entender como, em um cenário desses, desenvolve-se facilmente uma depressão. Começa com os pequenos desestímulos diários, alguns inerentes à atividade, passando pela completa desvinculação pessoal, onde a pessoa não tem como se sentir atraída para a profissão, embora ela possa ter vocação e 'amor' pelo que faz.
Motivos individuais, independente de contexto, certamente estão envolvidos no aparecimento e manutenção da depressão. Estes nunca devem ser desconsiderados e por esta razão, nunca pode-se prescindir da terapia psicológica. Depressão é coisa séria! Não adianta querer disfarçar com muletas químicas e pensar que estas promoverão a cura. Depressão, em alguns casos, acompanhará a pessoa por toda a sua vida. Quando se trata de depressão em um jovem, como no caso da professora em questão, que está praticamente começando sua vida laborativa, há que se pensar em adaptações, passando até mesmo por substituição da profissão por outra onde a pessoa se sinta mais confortável, onde ela conviva com menos estressores, onde ela possa vislumbrar a possibilidade de ser feliz. Insistir em desempenhar a profissão por razões de tempo (levou tantos anos para sua formação), por razões românticas (amor ao que faz) etc, só atrapalhará a vida da pessoa, chegando a inviabilizar, a longo prazo, qualquer outra atividade profissional. Insistir em uma situação que só está promovendo sofrimento é perder tempo, é anular todas as outras possibilidades que certamente existem. Em tempo, em relação a professora jovem do texto, desejo que a mesma não fique como sua mãe (aquela da faixa dos 50 anos), cheia de remédios que nada mais são do que paliativos para a dor do viver.