Difícil é viver privilegiando os próprios desejos. Pessoas assim podem ser rotuladas de individualistas, de egoístas. É tênue linha que separa posturas saudáveis diante da própria vida, de posturas totalmente egoístas.
Algumas condições na vida levam a aprendizados. Relacionar-se afetivamente, ter um filho, viver em comunidade, trabalhar em conjunto... Essas são situações que servem de laboratório pra desenvolvermos um olhar mais global diante das pessoas e da existência. Situações assim nos fazem sair da casinha, desenvolver o estado de pertencimento ao mundo em que vivemos.
Há que se trocar. Trocar experiências, trocar sorrisos, trocar afetos. Como seria a vida se a passássemos de forma isolada, sem validar a presença e a importância do outro nela?
Muitos de nós caímos na armadilha da autossuficiência. Muitos perecem na ilusão de que não precisam de nada e de ninguém. Que terrível engano! Porém, nesse emaranhado surge uma outra problemática. A seguir.
Como estabelecer um limite razoável entre o que eu, o uno, o indivíduo, a pessoa, quero para a vida, sem me perder na teia e na prisão que o individualismo exagerado cria? Como estabelecer um limite para a participação e a ingerência das pessoas em minha vida e vice-versa? Como ser bom, sem ser besta?
Vivemos em relação com as mais diversas pessoas. Pessoas legais, pessoas verdadeiras, pessoas falsas porém simpáticas, e pessoas que declaradamente não estão nem aí para nós, os famosos 'venham a nós, à vós, nada'. O que fazer para, em meio a esse panorama, adquirir a capacidade de impor limites aos vampiros que nos rodeiam, sejam eles emocionais ou materiais, sem nos transformarmos em egoístas de plantão?
Respondendo: falando a verdade. Abrindo o jogo. Dizendo o que e como se sente. Trazendo luz à embaralhadas questões. Identificando junto a essas pessoas, o limite de seu agir.
Por vivermos em uma cultura, somos automaticamente levados à corresponder a determinados padrões de comportamento pré-determinados. É nesse panorama que cria-se a dificuldade em respeitar os próprios limites, a incapacidade de dizer não e o escancaramento de portas para as doenças e as dores físicas e emocionais.
Como promover e cultivar saúde através da imposição clara de limites ao outro? Como dizer aos exploradores, 'chega', sem melindres?
A maioria das pessoas parece não perceber quando exageram na dose, sacrificando seus pares à circunstâncias nem um pouco agradáveis. Ser gentil faz bem, ser subserviente adoece. Do ponto de vista do explorado, sua condição chega a ser deplorável. Do ponto de vista do explorador, ao contrário, sua condição é a mais confortável já existente. Delegar tarefas ao outro e ficar na praia torna-se maravilhoso. Não me importa saber a dor e a dificuldade do outro, eu quero é resolver o meu lado. Vista grossa é o que vale quando só queremos enxergar o próprio umbigo.
Para os explorados, lembro que amanhã é um outro dia. Dia este que pode ser diferente, se você fizer valer seus desejos, se você aprender a dizer não, se você impuser os seus próprios limites. Sim, eles existem! Se você ignorá-los, seu corpo os denunciará em forma de dores e doenças. Abrace a vida em causa própria enquanto é tempo!