quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Die Traumdeutung

Galerie des Glaces - Palais de Versailles, France.

            Assim como os espelhos refletem nossa imagem, os sonhos refletem nossas verdades. 

A Interpretação dos Sonhos (Die Traumdeutung, no original alemão), considerada a mais importante obra da Psicanálise, está completando 124 anos.

Nesse período de tempo, inclusive pelas edições posteriores e as notas inseridas pelo próprio Freud, acumulando vivências e construindo outras teorias, ficou comprovada a imensa importância desse fenômeno psíquico chamado sonho, para a vida e a saúde mental. 

Não a toa, foi popularizado nas culturas e sociedades, meios simplistas e leigos de interpretar sonhos. Diferente do que foi propagado pelo senso comum, um sonho jamais será a previsão de um acontecimento futuro em nossa vida de vigília. Um sonho é, sobretudo, um percurso pelas emoções e significados da vida subjetiva de quem o sonhou, com sua história, desejos e aspirações. 

A interpretação do sonhos, enquanto técnica psicanalítica, conseguiu atravessar esses 124 anos, imprimindo um valor imensurável na terapêutica de pacientes em suas questões psicológicas ou mesmo mentais.

Através da interpretação de um sonho, podemos decifrar meandros do inconsciente e produzir insights (compreensões emocionais) de modo a resolver pendências afetivas importantes. Como resultado, alcançamos um estágio de calma e conforto, muito embora, algumas vezes, esse resultado seja a posteriori a uma condição de agudo desassossego.

Sabemos que em questões emocionais, não haveremos de querer o imediatismo, inclusive porque 'soluções' rápidas podem ser equivocadas ou falsas. Devemos e precisamos compreender que essa força coabita em nós: o inconsciente. 

Quando Freud formulou sua teoria, ele descreveu o sonho como uma realização (disfarçada) de um desejo (reprimido). Obviamente, hoje, não 'precisamos,' do ponto de vista psíquico, desse mecanismo descrito por Freud em 1900, da mesma forma que o criador da Psicanálise formulou. As cabeças estão mais abertas, porém, como temos as sociedades, as culturas, a religião, entendemos que pela simples existência destas, já podemos deduzir que ainda lidamos com inibições e repressões. Dessa forma, enquanto estivermos mais ou menos 'enjaulados' pela sociedade, estaremos necessitando, para produzir um certo equilíbrio psíquico, nos valer dos sonhos e de sua função terapêutica. Lembrando aqui que o que é recalcado, faz mal e promove doenças e infelicidade.

Observem que no sonho tudo é permitido. Não há limites, não há censura. O conteúdo que reprimimos acordados (porque é feio, porque não podemos dizer isso ou aquilo ou mandar determinada pessoa para determinado lugar), no sonho, é liberado. Muitas vezes, promovemos um certo equilíbrio e seguimos a vida por conta da função do sonho.

A Neurociência enquanto saber, desenvolveu-se ao ponto de transpor a característica de universalidade da ciência, considerando nossos cérebros tão distintos quanto nossas digitais porém, e até por isso, não há como desconsiderar o que sentimos. Inclusive, o sentir é, por vezes, soberano! Um viva para Freud e para a 'Die Traumdeutung.'