"Todo dia ela faz tudo sempre igual. Me sacode às seis horas da manhã..." Eterno Chico.
De manhã, ao levantar, as mil tarefas já se apresentam, lembrando o Dino da Silva Sauro: "Querida, cheguei..." É isso aí, não adianta espernear, a vida real chega "de com força" como falou uma vez um amigo de meu filho.
Entra ano, sai ano, vivemos, trabalhamos, viajamos, as crianças crescem - aliás, essa é a parte boa: É maravilhoso vê-los crescer, ficarem lindos - (santa corujice)! Mas, o dia a dia nos engole! Lembro-me que na minha infância, na adolescência, parece que a vida passava mais devagar. Hoje é um corre-corre. Mesmo com toda a organização, o esforço, parece que não damos vencimento às mil e uma tarefas que temos que realizar. O relógio diminuiu rsrsrsrs...
Procuro otimizar, não postergo coisas a fazer - até porque se assim o fizer, entrarão no tempo de outras - mas mesmo assim é difícil.
No meio dos malabarismos que temos que fazer, algum tempo para o cultivo dos amores e amizades há que se ter. Amores pelas pessoas e pelo que gostamos. Tempo para os risos com os amigos mais queridos. Tempo para o abraço com o filho. Um fragmento de segundo ali, parados, para (per)durar uma eternidade. Isso que dá sentido à vida. Esse alimento imaterial que nos fortalece e que faz o diferencial entre existir e viver.
Um segredo para desacelerarmos o tempo é viver todos os nossos pequenos momentos em sua completa intensidade. Se estou na cozinha, viver aquilo, se estou escutando minha mãe, dar atenção integral, se estou escrevendo, mergulhar, se estou com um paciente, estar inteira, se estou com um amigo, desfrutar, se estou em uma fila ou em outra situação estressante, observar. E por aí vai...
E assim mais um dia passa, mais um dia acaba. À espera de outro igual que chegará. Lembro aqui de um comentário desastroso que fiz para meu cunhado "reclamando" que acordava com o barulho dos passarinhos, e ele na hora retrucou: "Poxa, Vera, ainda bem que tu acordas com o barulho dos passarinhos". (Detalhe: Esses passarinhos estão soltos na natureza, não estão engaiolados). Na hora re-signifiquei. Além de os passarinhos virem espontaneamente, eu poderia estar sendo acordada por alguma dor em meu corpo, por um telefonema portador de uma má notícia, pelo barulho de bombas (não é exagero, neste momento mesmo em que escrevo, infelizmente em algum lugar deste planeta terra tem alguém passando por essa situação). Que venha o dia! E o dia a dia!