terça-feira, 18 de agosto de 2015

Shhhhh...



Como o silêncio é importante, senão fundamental, para o equilíbrio emocional!
Passei alguns meses morando em um prédio no 26º andar (este dado é importante devido o som se propagar para o alto), cercada por três obras em etapas diferentes de construção e foi, sem sombra de dúvidas, o pior lugar que vivi em toda a minha vida!
Já pela manhã, às 7, começavam as marteladas e serras da obra frontal à sacada; a que a meu ver, perturbava mais, em função de sua fase inicial e também em função do desrespeito a horários; esta se estendia invariavelmente até as 19 h com os trabalhadores se utilizando de uma lâmpada para trabalhar, o que registrei inúmeras vezes em fotos.
Por usar minhas manhãs comigo, para estudar, escrever, descansar, relaxar, arrumar a casa, trabalhar imagens que uso em minhas páginas etc, minha tortura era imensa, pois tinha que fazer isso em meio à vários decibéis de burburinhos de construção civil.
Ao voltar à minha casa, onde, embora próxima à uma movimentada avenida, consigo desfrutar de um silêncio inigualável (que, diga-se de passagem não veio 'de graça', visto que no passado fui obrigada a travar duas brigas, uma com um grande hotel e outra com um grande banco, que teimavam em nos premiar com o barulho ensurdecedor de seus geradores de energia), reafirmei a necessidade do silêncio na vida.
Não vivemos em uma ilha deserta, portanto, com algum nível de barulho temos que apreender a conviver, no entanto, desenvolver um trabalho que exige pensar, em meio a sons diversos e altos, é inviável. Implica em comprometer consideravelmente a qualidade de vida, implica em abrir portas ao estresse.
Não somos monges budistas, portanto, não exercemos cotidianamente o exercício da contemplação, mas precisamos de um mínimo necessário de paz em momentos que exigem um mínimo de concentração.
Pensando nas relações cotidianas, observo que muitas vezes somos afetados por níveis mais altos na comunicação com outras pessoas, para não dizer, gritos. Seriam estes realmente necessários? Qual a razão de elevarmos o tom da voz? Será que o ouvinte de nossos gritos os apreciam?
Penso que não! Na educação de crianças, por exemplo, quando o grito é usado, denota quase sempre a incapacidade dos pais em promover uma escuta eficaz, pré-requisito de uma boa comunicação.
Crianças que foram criadas a base de gritos, invariavelmente serão adultos bem treinados para gritar com quem apareça à sua frente, nas mais diversas situações. Tornam-se pessoas pesadas, arrogantes, autoritárias, ou, pelo menos, passam essa imagem, afastando os outros delas.
O silêncio é nobre em nossa vida. Organicamente falando, precisamos dele. Nosso cérebro precisa alternar estímulos e um certo estado de latência proporcionado pelos momentos de silêncio.
Nossos relacionamentos precisam do silêncio. O silêncio que, contraditoriamente, é o momento de ouvir a si próprio e fazer-se escutar pelo outro. Nunca deveríamos privilegiar o barulho. Nunca! O mundo lá fora já nos proporciona isso com  maestria. No trânsito, nas obras,  nos 'donos da verdade'.

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