segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Anorexia Sexual


Tão devastadora quanto o vício em sexo, é a fuga compulsiva por intimidade e sexo, 'sexual anorexia', em Inglês.
Desde 1975, já falava-se nesta condição, embora apenas em 1997, o termo ganhou destaque com o livro do  mesmo nome, do psicólogo americano Patrick Carnes, pioneiro no estudo das patologias do sexo, que ousou dedicar-se  a estudar um tema tão complexo e diversificado como a sexualidade humana, criando um Instituto de Tratamento para essas patologias, o International Institute for Trauma and Addiction Professionals, na Flórida, EUA.
Quem sofre dessa condição acaba por comprometer toda sua vida afetiva, pois o medo de relacionar-se sexualmente leva ao afastamento das pessoas e ao consequente impedimento da construção de relacionamentos.
Criar parâmetros para a dita 'normalidade' no campo da sexualidade humana sempre foi muito difícil, tanto é que apenas em 2013, passou a figurar no DSM (Manual Estatístico das Doenças Mentais), um CID (Código Internacional de Doenças) para transtornos sexuais de forma mais específica.
Rótulos e classificações à parte, o que para a Psicologia sempre foi secundário, o que interessa aqui é o estrago em nível emocional causado aos acometidos por essa condição.
Quem 'sofre' de evasão sexual, foge da vida! É esse o aspecto mais danoso que se observa.
Como seres humanos, somos projetados para agregar; dessa forma, fica impossível isolar o sexo de uma vida 'normal'. O sexo faz parte da vida tanto quanto a afetividade. Claro que seu desenvolvimento não se manterá em um continuum ao longo da vida, por inúmeras razões físicas, emocionais e contextuais, porém, espera-se que o sexo seja incluído na vida desde a adolescência e se situe até a velhice, resguardadas as diferenças individuais.
O desenvolvimento de situações de anorexia sexual podem se dar em idade precoce, quando já existe uma dificuldade de trocar com seus iguais. Educação repressora pode estar envolvida nesse processo. Pais que tratam o sexo envolto de pudor com seus filhos, que não se permitem em nenhuma medida conversar sobre o assunto de forma natural, podem estar contribuindo para a instalação do quadro no futuro.
Indivíduos com 'anorexia sexual' (o termo apesar de ter sido cunhado por um especialista da área eu o uso como ilustrativo), têm tendência ao isolamento, à baixa autoestima, à ansiedade e à depressão. O contato corporal, para esses indivíduos, é assustador. Seu embotamento emocional não lhes permite construir relacionamentos saudáveis, nestes necessariamente incluído o aspecto sexual. Não conseguem construir uma intimidade, passam a maior parte do tempo solitários e possuem interação social diminuída. Mesmo quando estão em situações sociais obrigatórias, como estudo ou trabalho, não interagem normalmente com os demais.
As implicações futuras na vida dessas pessoas são dramáticas. Algumas delas, pela falta de tratamento adequado, podem passar a vida em branco. Quanto mais cedo observado o problema e mais rápida a intervenção pela psicoterapia, menos sofrimento provocará.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O Preço Que Se Paga



Por mais paradoxal que pareça, exercer a autenticidade hoje em dia não está fácil. Uma onda reacionarista está assolando muitas mentes atualmente!
Uma grande maioria, historicamente falando, sempre teve dificuldade em aceitar ou mesmo sequer validar o diferente. Diferente do que se pensa, diferente do esperado, diferente do planejado. Poucos são os que apresentam uma facilidade à flexibilidade. 
O que estaria, em termos psíquicos, envolvido nessa dificuldade? De uma forma bem exagerada, do ponto de vista psicológico, mas nem tanto exagerada, quando observamos situações reais, diria que, quem não aceita uma opinião diferente da sua, sente seu ego agredido. 'Se o outro não concorda comigo, quem sou eu'? 
Exagero maior são de certas pessoas, ou 'categorias de pessoas' (sim, isso existe!), que tentam impor seu modus vivendi aos outros, querendo que os demais sigam seus modelos. Não, infelizmente, isso não é fantasia nos dias atuais, é realidade! No campo pessoal, na política, na sexualidade, na educação. Triste ver a informação ter ficado tão acessível, ao alcance de (quase) todos, e muitos preferirem beber na fonte da ignorância e do preconceito.
A Psicanálise por vezes se vale de alguns conceitos para jogar luz nessa complexa questão. Quem discorda e critica o modo de viver dos outros e se sente à vontade para ditar regras em uma vida que não é sua, demostraria ter muitas questões mal resolvidas no seu próprio eu. O fracasso na condução de uma vida feliz, a incompetência em gozar (não estritamente no sentido sexual), seria a origem da preocupação para com a vida alheia e o consequente distanciamento de sua própria vida. Em um movimento contrário, parece que quem está bem consigo mesmo, quer que o outro também esteja, não importando como este exprime suas opiniões, suas escolhas, e o jeito que ele vive sua vida. Nada do que o outro faz com a vida dele é alvo de criticas quando se está bem consigo mesmo.
Problemas maiores existem quando as pessoas querem ser autores de uma vida que não é a delas. Não conseguem respeitar o direito que cada um tem de viver a sua vida como bem quiser e entender. Pessoas assim, na verdade, escondem uma incapacidade de gerenciar e administrar construtivamente suas emoções; projetam na figura do outro o descontamento provocado por essa incapacidade sob forma de necessidade de controle de tudo e de todos. Assim nascem os preconceituosos, os machistas, os autoritários, os poderosos.
Um triste fim é anunciado para seres assim. Ao passarem uma vida escondendo suas fragilidades e limitações, aquelas, que todos nós, os seres humanos, temos, afastaram delas as pessoas, pois ao não encarar o diferente, sobrou à elas apenas o igual, elas mesmas! Nunca podemos esquecer que, para que eu me constitua como 'um', necessito da oposição do 'outro'; caso contrário, a solidão será minha única companheira no futuro.