Talvez a pior condição amorosa que um ser humano pode ter, a solidão a dois parece ser mais comum do que se imagina. Casais que aparentemente vivem juntos um amor muitas vezes invejado, em um bom sentido, pelo que os cercam, podem estar camuflando para eles próprios, a real situação em que se encontram, afetivamente falando.
Viver um amor durante um determinado tempo, com tudo o que um relacionamento pode contemplar (de bom e de ruim), parece ser privilégio da minoria. Em um momento de relacionamentos descartáveis, conseguir a 'proeza' de ser feliz e proporcionar felicidade a seu par afetivo, está mais difícil do que acertar os números da mega-sena!
O investimento amoroso sempre mobilizou o ser humano; Vinícius cantou ser impossível ser feliz sozinho! O que dizer, então, de quem 'escolhe' aceitar uma condição de solidão a dois? Por que algumas pessoas preferem enfrentar um relacionamento infeliz, que nada mais lhe oferece de bom, do que enfrentar a vida lá fora, onde possivelmente estão as possibilidades de resgate da própria felicidade?
Sabemos o quanto é difícil para nós lidar com o 'fim' de qualquer coisa. Fim de um namoro, fim de um casamento, fim de uma amizade, fim da juventude, fim do sucesso, fim da estabilidade, fim do emprego, etc, etc.
Esse apego ao que vamos construindo ao longo de nossa vida, pode ser a maior cilada. Sem que consigamos perceber, vamos nos acomodando à 'ordem' estabelecida e com isso não nos permitimos viver novas emoções; ficamos 'mortos-vivos', alimentando-nos do que já temos, mesmo que o que 'já temos' não represente verdadeiramente mais nada.
O medo do enfrentamento de uma situação nova também é um fantasma que atormenta e impede a mudança. Infelizmente, esse medo não se dá apenas na área afetiva, ele permeia nossa vida. Lutar contra essa característica tão humana, aliás, deveria ser nossa meta número um, aqui nessa passagem.
A falsa sensação de segurança é outro entrave para enxergar a situação como ela realmente é. A sensação de sentir-se protegido é a 'cereja do bolo' nos relacionamentos falidos. O comodismo à uma situação conhecida, a falácia da estabilidade; e pensar que nem a vida é estável, quanto mais os relacionamentos! É por pensar assim, que muitos casais chegam a um abismo, onde não há diálogo, e assim não há como identificar quais problemas atingem, separadamente, os indivíduos (sim, são indivíduos, individuais), nesse par. Afastando-se de nossas expectativas, vamos cavando dia a dia o poço da insatisfação, além de projetarmos, injustamente, no outro, a culpa pela nossa infelicidade.
São muitas as implicações na situação de afastamento entre os casais, porém, ao desistir da relação, passando a dar menos valor ao relacionamento, certamente iniciamos o processo de instalação, gradativo e imperceptível, da solidão a dois.
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