segunda-feira, 9 de maio de 2016

"Menos Uma".


Outro dia li algo, de um jornalista de meia-idade, lembrando-se de seu pai; este dizia, que cada vez que seu pai fazia a barba, o mesmo falava: 'menos uma'! Em princípio achei chocante, pois remetia diretamente à proximidade da morte, ou seja, cada vez que ela fazia 'mais uma barba', esta era 'menos uma' (na vida).
Num segundo momento, pus-me a pensar para achar um sentido naquela frase e percebi que não adianta fazermos 'o jogo do contente' em relação à morte, no entanto se tivermos a consciência bem tranquila em relação à nossa finitude, certamente teremos melhores condições para lidar com a irrefutável verdade da vida, a morte!
A vida é, como numa peça de teatro, feita de atos; alguns maiores, outros pequenos, porém todos com sua relativa importância. Os problemas começam quando passamos a valorizar atos mais importantes em detrimento dos menos importantes; os problemas começam quando começamos a confundir qualidade e quantidade; quando creditamos e deslocamos para o exterior, papéis que deveriam ser desempenhados por nós.
Convivemos hoje com muitos elementos alienantes, o que dificulta extremamente uma tomada de consciência do que realmente necessitamos. Satisfazemos desejos e logo os substituímos por outros, em uma corrida que não tem fim. Encarar nossa fatal finitude não precisa produzir desespero, ao contrário, pode nos ajudar a desenvolver uma espécie de habilidade para identificar o que realmente importa. Poderíamos assim aprender a valorizar apenas o que acrescenta o interior, desprezando as aparências.
A vida é breve e nunca se sabe quando ela findará, por esta razão, ela está sempre precisando ser atualizada. Precisamos checar as expectativas, os desejos, metas e objetivos pessoais. Precisamos avaliar se estamos vivendo por nós; se estamos desviando do que queremos, do que nos faz e fará bem. Precisamos aprender a discriminar 'o que é meu e o que é do outro', em relação à vontades; como não vivemos sós, em uma ilha, podemos ser influenciados por desejos que não são os nossos e corremos o risco de embarcar no navio dos sonhos alheios.
A questão que se coloca, a partir da reflexão da 'menos uma', é, que se a morte concreta acaba com nossa vida, a ideia de morte, pode nos ajudar a viver melhor!
"Tu tens um medo: acabar!
  Não vês que acabas todo o dia.
  Que morres no amor.
  Na tristeza.
  Na dúvida.
  No desejo.
  Que te renoves todo o dia.
  Na tristeza.
  No amor.
  No desejo." Cecília Meireles.

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