"Se o meu zumbido não tem cura, como posso conviver com ele?"; "Sentir esse barulho é enlouquecedor"; " Não dá para viver assim, eu não tenho paz!". Essas são algumas das frases que ouvi quando tive a oportunidade de atender pacientes que sofriam dessa condição que atinge, no mundo, cerca de 278 milhões de pessoas, 28 milhões só no Brasil. Apesar de não ser considerado uma doença e sim um sintoma, o zumbido é considerado um grave problema de saúde por conta dos desdobramentos que ele provoca.
Zumbidos no ouvido podem ter várias causas, desde infecções ou lesões no ouvido até condições ambientais, onde pessoas foram expostas de forma prolongada ou contínua a sons acima de 85 decibéis.
Condições de perdas auditivas cursam em paralelo com zumbidos de alta intensidade no ouvido, o que, em última instância, concorre para um desequilíbrio considerável do indivíduo acometido; falo aqui não só do equilíbrio físico propriamente dito (este está presente na quase totalidade dos casos, principalmente na fase inicial, do aparecimento do sintoma, quando o indivíduo ainda não se submeteu a nenhum tratamento,por conta do comprometimento do nervo vestibular, responsável pelo equilíbrio do corpo) mas também a nível psíquico, pois zumbidos no ouvido causam um desconforto tão grande, que muitas vezes só pode ser aliviado, quase nunca totalmente suprimido, por medicações neurológicas ou psiquiátricas pesadas.
Quais as implicações maiores dos zumbidos a nível psicológico?
Portadores desse sintoma vivem sob estresse contínuo! A título de comparação, lembre do quanto você fica perturbado quando exposto a um barulho externo, do ambiente, por algum tempo; se este tipo de barulho já incomoda, imagine ter que conviver, quase sempre ininterruptamente, com barulhos internos, vindos de sua 'cabeça', descritos como "barulho de motocicleta, barulho de cigarra, chiado, panela de pressão, cachoeira, etc...".
Essa condição produz uma fragilidade no sujeito ao ponto de oportunizar o desenvolvimento de quadros psicológicos de depressão e ansiedade; pacientes com um grau de tolerância pequeno aos zumbidos não podem prescindir de tratamento psicoterápico contínuo a fim de ajudá-lo a conviver com essa situação tão adversa. Zumbidos promovem desequilíbrio e sofrimento; como têm um prognóstico reservado em relação à melhora e cura, esses pacientes precisam aprender a conviver e a serem felizes apesar dos zumbidos. É difícil mas não impossível; vai depender do grau de comprometimento psicológico do mesmo com a situação; vai depender do grau de entendimento do mesmo acerca das mazelas que nós, seres humanos, às vezes temos que conviver na vida.
Uma parcela significativa de portadores de zumbido parece querer sucumbir, inclusive não encontrando mais razão para viver e buscando o suicídio. Existem, nesse sentido, grupos de apoio a portadores de zumbido, nos moldes dos Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos. Nesses grupos, muitas vezes os pacientes conseguem descobrir uma razão para continuar, através da troca rica de experiência e pelo olhar de que não estão sós.
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