quarta-feira, 28 de maio de 2014

Relacionamentos Tóxicos



Nome sugestivo para aqueles relacionamentos que oferecem mais dor do que prazer, que acumulam mais tristezas que alegrias, que proporcionam mais tensões do que tranquilidade.
Já temos certeza que nós, os seres humanos fomos 'projetados' para nos relacionar com uma 'cara metade'. A grande maioria de nossa espécie, ao menos uma vez na vida tem uma experiência amorosa/afetiva. Não significa dizer que é impossível viver sozinho, mas ter uma troca afetiva na vida nos proporciona um aumento de contentamento e felicidade. Pelo menos deveria ser sempre assim. Mas não é!
Por ingenuidade, baixa auto-estima, falta de cuidado, desatenção e outras milhares de razões, muitas vezes nos relacionamos com pessoas que nos trazem de um tudo, menos a calmaria de um relacionamento afetivamente qualitativo. Será possível se proteger de relacionamentos assim? Certamente, é a resposta.
Vivemos em um mundo onde as melhores qualidades são expostas de forma  bastante explícita, enquanto os defeitos, aqueles que todo mortal possui, não constam em nosso cartão de visita. Isso já faz com que passemos uma imagem não tanto fiel de nossa realidade. Fora isso, que eu diria acontecer em uma esfera mais 'normal', existem pessoas que são narcisistas, controladoras e manipuladoras, inicialmente não declaradas, porém com o tempo de relacionamento essas características antes camufladas vem à tona, em geral quando já está instalado um envolvimento afetivo da 'vítima'. Sim, porque cabe a denominação. Do lado de pessoas com essas características tão negativas de personalidade, sempre há uma vítima. Como diz a música "É preciso estar atento e forte"...
Quanto à frase da música, ainda tem esse 'outro lado': A baixa auto-estima das pessoas que se deixam manipular por esses indivíduos que encontram um terreno fértil para montar sua estratégia de destruição, que é o que muitas vezes os relacionamentos tóxicos causam. Um verdadeiro esfacelamento do ego de quem passa pela situação é o resultado que ocorre. Voltar a se relacionar de forma saudável depois do abalo provocado torna-se difícil, com a pessoa desenvolvendo muitas vezes uma tendência à repetição, envolvendo-se com o mesmo tipo de pessoas. Ou, de forma oposta, a vítima pode criar uma tendência ao isolamento afetivo, desenvolvendo medos irracionais e com extrema dificuldade de confiar novamente em alguém. O estrago é sempre grande!
Relacionamentos tóxicos são destrutivos, provocam violências psicológicas importantes e na maioria das vezes, sem ajuda terapêutica, os envolvidos não mudam. É em um ambiente psicoterapêutico que tanto o manipulador, verdadeiro destruidor da felicidade alheia, quanto a vítima, sabotadora de sua própria felicidade, podem encontrar-se com seus 'eus' sem disfarce e iniciar um processo que acarrete na (re)construção de seus desejos e expectativas na esfera amorosa. 


sexta-feira, 23 de maio de 2014

" A maior felicidade das pessoas ainda é quando conseguem estabelecer vínculos amorosos de qualidade". Flávio Gikovate.



Lendo um artigo sobre consumismo no Brasil da atualidade, focalizando principalmente na nova elite brasileira, os chamados 'novos ricos' e seus exageros 'gastatórios', no qual o psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate aponta com muita assertividade as causas e caminhos da felicidade e/ou infelicidade desse grupo, inspirei-me a traçar algumas considerações sobre um tema sempre recorrente, a importância do dinheiro ou de sua falta na vida dos indivíduos e quanto somos norteados e direcionados ao simbolismo que ele ocupa na sociedade atual.
Apesar de estudos em Harvard apontarem para a impossibilidade de sermos felizes sem termos garantidas as nossas necessidades básicas, como saúde e alimentação (o que no meu entender qualquer ser humano com um pouco mais de sensibilidade reconheceria, para si e para os outros), na contramão desses resultados, parece que em um nível de maior acúmulo, o dinheiro provoca mal estar e infelicidade. Surpresos? Pensem um pouco e talvez responderão: "Nem tanto".
O dinheiro pode atrair pessoas para quem o tem (aí, infelizmente todo tipo delas, inclusive os invejosos, os falsos amigos, etc), e pode também afastar as pessoas, quando, pelos mais variados motivos, o dinheiro resulta em elemento desagregador, tornado a pessoa que o tem como um ser diferenciado para as demais, muitas vezes porque o próprio 'endinheirado' julga-se diferente, para melhor.
Engana-se quem pensa ser dinheiro sinônimo correto e direto de felicidade. O que é pior, engana-se 'redondamente', engana-se muito! Dinheiro não é patrimônio de felicidade!
O dinheiro pode ser o elemento mais estressor para quem o tem, quando estas pessoas desenvolvem uma relação de apego com ele, por exemplo. Quando o acumular passa a ser doentio, passa a ser mais fundamental do que aproveitar os benefícios que ter um pouco mais de dinheiro traria. Ou, ao contrário, quando as pessoas exageram num consumismo sem noção e sem fim, muitas vezes acumulando coisas que não precisam, que não usufruem, que não tem prazer nenhum em ter. Compram para ostentar, mostrar, exibir e o desejo ligado ao objeto inexiste. É um movimento repetitivo infindável, produtor, no final das contas, de um imenso vazio. Vazio este que apenas os sabores e dissabores dos relacionamentos entre as pessoas poderia produzir. Parece que foi para isso que fomos projetados e, como conclui Flávio ao final de seu artigo e que dá título a este texto: "A maior felicidade das pessoas ainda é quando conseguem estabelecer vínculos amorosos de qualidade". Complementando, talvez esta seja a verdadeira loteria da vida!

quinta-feira, 22 de maio de 2014

A César O Que É De César


Já repararam que existem pessoas que nos 'presenteiam' com o que não nos cabe? São recorrentes na vida situações onde estamos sendo atingidos por agressões sem merecer. Sentimentos negativos deslocados de seu objeto alvo original e que causam no mínimo, um máximo desconforto a quem os recebe (o trocadilho é proposital).
O fato descrito acima ocorre porque algumas pessoas não se 'vêem', isto é, desconhecem totalmente seu movimento psíquico, suas motivações, seus desejos, suas frustrações, suas insatisfações na vida. Este fenômeno - o de que nossa vida não é um 'mar de rosas' - deveria ser encarado com mais naturalidade, sem os dramas excessivos que em geral permeiam essa constatação.
Precisamos de uma dose de desassossego, de contrastes, de lutas, de decepções, até para movimentar a vida, para sentir que podemos nos desenvolver, fortalecer e crescer. A vida perfeita seria um tédio, essa que é a grande verdade!
Aqui estamos para receber apenas o que nos pertence, seja para o bem ou para o mal, sejam elogios ou críticas negativas e não um pacote que não nos é devido. Se uma pessoa sofre alguma pressão em seu cotidiano de alguém e sente-se mal por isso, seu problema deve ser resolvido com esse objeto; se está com problemas em casa, resolva em casa, não leve para o trabalho! Ninguém tem culpa pela sua inoperância diante do seu 'objeto-algoz', resolva-se com ele! Mas, para que isto ocorra, é necessário um olhar atento para dentro (para as insatisfações resultantes da agressão cometida pelo objeto-algoz) e um olhar para fora (identificador das insatisfações produzidas pelo sujeito-vítima aos outros que nada têm a ver com o fato). Temos que saber identificar o que compete a nós receber, sob pena de nos distanciarmos cada vez mais do que merecemos na vida. Se aceito tudo o que me jogam (inclusive o que eu não deveria aceitar), vou encolhendo como pessoa, me submetendo ao bel prazer do agressor e comprometendo seriamente minha auto-estima. Quando, como uma válvula de escape inconsciente, projeto em meus próximos essas agressões desviadas, comprometo esses relacionamentos, afasto os que me querem bem por culpa das ações dos que me querem mal. É um enigma complexo de decifrar que muitas vezes só se desvenda em uma situação terapêutica.
Nossos problemas tem que ser resolvidos no aqui-agora com os objetos certos, sem deslocamento. 
Enquanto insistirmos na cegueira acerca de nosso funcionamento, ficamos expostos a todo tipo de violência psíquica, causando danos imensuráveis ao que teríamos que mais prezar: O nosso ser!




sexta-feira, 16 de maio de 2014

A Mãe é um Culpado Ideal



Seria a mãe a figura culpável ideal? Ela é responsável por nossas neuroses, nossa falhas, nossas tristezas...? indaga o site francês Psychologies.com.
Certamente influenciada por uma leitura superficial de certos aportes da Psicanálise freudiana, esta ideia difundida erradamente pelos mais desavisados que tentava anular e até mesmo ignorar outras influências no desenvolvimento infantil, quando sabe-se que na verdade e principalmente atualmente, a criança é cuidada por e para além dos limites do lar ou mesmo dentro dele, por muitas outras pessoas. Mas, sabemos como é comum a deturpação das teorias freudianas...
Inegavelmente, a mãe é nosso primeiro contato com o mundo, mesmo antes de nascermos, quando ainda somos esperados, desejados ou não. Estes desejos maternos concorrem para a futura relação entre a mãe e a criança determinando como essa relação vai 'funcionar'. Após o nascimento, inicialmente pela questão física, o amamentar, os cuidados iniciais que geralmente ficam ao encargo da mãe, fica estabelecido um maior vínculo com a mãe do que com qualquer outra pessoa que cerque a criança, mesmo sendo o pai mais participativo.
Observamos como foi desenvolvida a evolução das famílias e a consequente influência dessas mudanças ao longo da História na formação dos indivíduos. Toda e qualquer mudança na vida da mulher refletiu na formação de seus filhos, afirmação corretíssima. Com a saída da mulher para o mercado de trabalho, muito do que era oferecido às crianças foi abandonado, porém, como o saldo dessa mudança era uma mulher mais ‘inteira’, mais livre de neuroses, mais satisfeita consigo mesma e com o mundo que a cerca, me parece que as crianças ganharam uma mãe qualitativamente melhor.
Fácil nesse contexto ainda culpar a figura da mãe/mulher, indisposta para lutar muitas lutas a serem travadas pela autoria de uma situação que não lhes cabe. Parece que o tempo avançou historicamente falando e essa mãe/mulher deixou de ser culpada por uma razões, mas manteve a culpa por outros motivos.
Desde os amiguinhos na escola, professores, passando pela Publicidade, pela mídia, por tudo quanto esta criança é ‘bombardeada’ no seu dia a dia, tudo isso, junto e misturado, vai exercer influência decisiva na formação das neuroses desse futuro adulto. Inclusive e também, é claro, sua mãe.
Ainda bem que as mulheres avançaram tanto na condução de suas vidas que me parece não existir mais a demanda das mulheres culpadas por causar algo prejudicial aos seus filhos. Livres da culpa a elas imposta, puderam e podem crescer sem limites como pessoa, que é o que interessa à elas e certamente aos seus filhos.