domingo, 24 de agosto de 2014

'Grand Final'.




Acabo de ler um texto impressionante pelo seu realismo! Sobre ela, aquela que nos espera um dia: A morte! A morte e seus 'comemorativos'. Não no sentido festivo, não no sentido médico, e sim no sentido de fazer alusão à, no sentido de envolver a questão (da morte).
Pensar em morte nos leva inevitavelmente a pensar em vida, em como deveríamos proceder até nosso grand final. 
Temos um certo preconceito em falar de morte, em sequer pensar nela. Observo que há, em grande parte de nós, os seres humanos, um discreto desejo de se tornar imortal; seja através de nossos feitos, nossos filhos, lembranças, marcas, etc. já que através da própria vida é impossível, diante da irrefutável realidade de que todos nós morreremos um dia.
O texto 'O Mundo da Gente Morre Antes da Gente', da jornalista Eliane Brum, descreve, com um grau inequívoco de assertividade, como o desenrolar da vida confunde-se com a inevitabilidade da morte. Como os planos que fazemos podem ficar no meio da estrada, como o inesperado pode estar esperando na esquina. Cita vários desses imprevistos, de pessoas que não conseguiram cumprir a  agenda, de pessoas que nem tiveram a oportunidade de sequer sonhar o sonho daquela noite porque a morte os esperava. 
Fala das pessoas que buscaram a morte, por de alguma forma não conseguir sustentar a realidade de sua própria existência; fala de quem envelhece, fala de quem adoece, fala de quem, buscando dar uma 'desligada' da vida, errando a dose, se foi para sempre...
Interessante também a abordagem que ela dá aos efeitos de outras mortes em nós, como de certa forma morremos um pouco, porque alguns nos precederam. Parece até cruel, usar esses termos pesados, mas o que haverá de bom, de positivo, ao se falar de morte?
A meu ver, o primeiro objetivo positivo, está em criar uma oportunidade, para, a partir do 'pensar' sobre a morte, podermos 'checar' sobre a vida. Buscar captar como estamos vivendo, e 'se' estamos vivendo!
Sim, porque parece que muitas vezes 'viver' poderia ser facilmente substituído por preocupar-se exageradamente, gritar, tratar mal as pessoas ou deixar que elas nos tratem mal, guardar além das 'previdências', tolher o prazer, exagerar nos preconceitos, ativar moralismos decadentes, esquecer de se olhar (muitas vezes ativando o olhar para a vida alheia) e por aí vai...
Se, ao pensar acerca da morte, conseguirmos fazer um mergulho de reconhecimento em nossas vidas, valerá muito à pena!
À certa altura da vida, vale mesmo perguntar: "Como nosso mundo morre antes da gente?". Além de todas as já mencionadas considerações, nosso mundo começa a morrer quando desistimos de viver e apenas existimos, dia a dia, numa rotina repetitiva e interminável; quando não damos chance ao acaso, aquele acaso que nos surpreende positivamente, quando deixamos os rigores nos engessar, enfim, quando não estamos pro que 'der e vier', como toda valiosa existência exige!

Um comentário:

  1. "O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo" (Honoré de Balzac, francês, escritor).

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