terça-feira, 30 de abril de 2013

A Vida Passa. E ai?


Será que temos a atenção de ver que a cada dia que vivemos, estamos abraçando ou desperdiçando vida?
Relendo o poema da americana Nadine Stair, erradamente atribuído ao argentino Jorge Luis Borges percebo o quanto as pessoas podem garantir o melhor ou o pior em suas vidas. 
Na hora em que nos submetemos à situações que nos colocam frente à uma tomada de decisão, quando percebemos o quanto estamos suportando o que, como diz a música, não dá mais pra segurar, temos a chance da mudança, do recomeço.
Ninguém deveria nem minimamente aguentar o que não gosta. Não falo aqui das "coisinhas" de nossa rotina de pobres mortais: Acordar cedo, trabalhar em horários que às vezes não queremos, lidar com coisas e pessoas nem tanto fáceis. Falo aqui de aguentar o que nos faz mal, o que nos destrói lentamente, o que nos fragiliza.
Conheço pessoas que levam ao limite da exaustão esse "aguentar". Sufocam-se em desejos e normas do outro em detrimento de seus próprios desejos. O outro rouba-lhe a calma e a alma. Ficam reféns de um controle absurdo. Adaptam-se perniciosamente ao que lhe é imposto. Viram um "zero à esquerda", chegam ao subsolo. Porque? Quem precisa submeter-se à isso? Ninguém!
As pessoas que vivem assim nem desconfiam de seu poder de reação, de sua capacidade de mudança. 
Primeiro é necessário identificar essa situação, explorar o que ocorre e inserir-se no cenário entendendo quais os prejuízos que estão sendo permanentemente colhidos pela aceitação tácita das regras do outro. Ninguém precisa ser mal tratado. Ninguém merece. Ninguém deve aceitar ser mal tratado. 
Quem é doente precisa se tratar. Estou falando do outro lado - da outra pessoa -. Isto é, quem aceita, também não está bem, mas quem impõe seus rigores, está cego. 
Denunciada a situação, quando as cartas - os problemas - são colocados na mesa, não há como arrastar um prazo indefinido para que o outro enxergue que está lidando com um ser humano, que tem desejos próprios, vontades, objetivos e o irrefutável direito de conduzir sua vida. Nas ações mais simples e nas mais  complexas. Quanto mais o tempo passa, a vida também passa. E ai? Arrepender-se aos 85 anos será um pouco tarde demais. 
Abaixo o poema, para refletir:

Instantes - Nadine Stair

Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido;
na verdade, bem poucas pessoas levariam a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvete e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu
sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver,
trataria de ter somente bons momentos. 
Porque, se não sabem, disso é feito a vida:
só de momentos - não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma
sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e um pára-quedas;
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo.

 


segunda-feira, 29 de abril de 2013

A Pressa de Cada Dia

Porque certas pessoas vivem o tempo todo com pressa? O que faz algumas pessoas desencadearem um sistema automático gerador de pressa/ estresse em tudo o que fazem? "Temos todo o tempo do mundo", diz a música que fala dos jovens. Penso que se não nos darmos chance de fazer o que temos de forma  mais tranquila, talvez nem cheguemos à velhice. O estresse certamente nos matará. E também matará nosso entorno, senão literalmente as pessoas que nos cercam, os relacionamentos construídos com elas. Estes serão lentamente destruídos, ficarão imersos em um ambiente de tensão onde viver significa uma tortura.
Pessoas que vivem tensas com o tempo, seja ao falar (você certamente conhece alguém que não deixa você falar), seja ao agir aceleradamente, contaminam tudo ao seu redor. Em casa, no trabalho, com os amigos,  no trânsito, vivem o tempo como se fosse o último segundo de suas vidas e estressam todos em sua volta.
Pessoas assim não sabem desfrutar do prazer do momento, pois estão em uma espécie de realidade paralela onde o tempo é sugado pelas suas atitudes e falas demasiadamente aceleradas. Elas tem dificuldade de se enxergar, de se ver; o tempo passa tão velozmente e elas sempre atropelando-se em um emaranhado de ideias, de situações. Se não me vejo, não consigo entender meu funcionamento, minhas atitudes. É um viver vazio, é um simples existir. Corro, corro e não chego à lugar algum.
Uma vez li uma frase, em trocadilho com a conhecida "a pressa é inimiga da perfeição", que dizia, "a pressa é inimiga da conexão". É isso, a pressa realmente dificulta e até impossibilita as pessoas de se conectarem. Inicialmente consigo mesmas, o que é fundamental e ponto de partida para todo o resto e depois com os demais, impedindo o desenvolvimento natural dos relacionamentos.
Esta tensão que as cerca leva à uma espécie de oxidação em seus relacionamentos. Se instala e só piora com o tempo. Se nada for feito, falência total. Há que se dar tempo para certas coisas na vida se organizarem, voltar à uma condição agradável; a pressa para chegarmos ao porto pode fazer o barco afundar. 



Ando devagar porque já tive pressa,
E levo esse sorriso, porque já chorei demais,
Cada um de nós compõe a sua historia, cada ser em si 
Carrega o dom de ser capaz, e ser feliz.

Almir Sater.

É acreditar e realizar. Mãos à obra!

sábado, 27 de abril de 2013

As Lágrimas Que Não Chorei.


Cena da atriz Maggie Smith em Capturing Mary
Chorar promove uma descarga emocional. Quando choramos, nosso psiquismo está disposto à varrer da alma a tristeza motivadora de nosso choro, a angústia que nos oprime.
Muitas pessoas tem reserva em relação ao ato de chorar. "Chorar é para os fracos". Entendo que é o contrário. Chorar é para quem tem coragem de assumir seus sentimentos (para si mesmo, o que é fundamental).
Chorar nos ajuda em vários sentidos. Além de denunciar para nós mesmos que algo está em desajuste, provocando sofrimento, chorar é uma oportunidade para expressar a angústia contida, o nó na garganta; assim, as emoções contidas vão literalmente por água abaixo.
Conter as lágrimas quando por algum motivo é quase impossível chorar, devido à alguma situação especial ou por estar na presença de alguém não íntimo, o que deixaria a pessoa desconfortável, não vai causar grande prejuízo, até porque um simples adiamento é convidado a entrar em cena, mas imagine o que é passar uma vida contendo lágrimas que precisavam ser derramadas!
No filme Capturing Mary, a personagem de Ruth Wilson/Maggie Smith (Mary jovem e Mary idosa), passa toda a trama engolindo lágrimas e só ao final, sozinha em um banco de parque, após fazer a catarse de toda uma vida para um ilustre desconhecido, é que ela se permite chorar. As lágrimas de toda uma vida em um choro compulsivo. Quanto tempo perdido! Em especial neste filme, consigo afirmar que, naquela situação, a ausência do choro evitou um encontro obrigatório com suas verdades mais profundas ao mesmo tempo que promoveu um viver na superficialidade, sem compreender suas reais necessidades emocionais, o que poderia ser condutor para a felicidade.
Claro que chorar se faz mais amplo; chora-se por alegria, por tristeza, por saudade, por lamento. Refiro-me aqui à necessidade de chorar por não mais aguentar a represa de sentimentos. É esse choro contido por alguma espécie de dor emocional que não ajuda a melhorarmos nossa vida , pois assim como, ao evitar nosso encontro com nossas dificuldades, nossos temores e nossas angústias, poupamos as lágrimas, também podemos, com essa atitude estar evitando o movimento em direção à uma vida emocional menos tempestuosa e quem sabe, até feliz.

domingo, 21 de abril de 2013

Pessoas Que Amam Demais

Amar demais devia ser bom. Sempre. Mas não é. É sabido que quando o amor ultrapassa a fronteira do amor-próprio, ele é prejudicial. Independente de sexo ou de orientação sexual, o ser humano pode amar demais, nesse sentido danoso, errado.
Nosso primeiro amor é com nossa mãe, nos primeiros momentos de vida, quando temos o seio e o colo.
Substituímos esse amor lentamente, por outros amores, apesar daquele ser sempre nossa primeira referência de amor.
Amar deveria proporcionar sempre felicidade. Ajudar a enxergarmos 'passarinhos verdes' logo ao acordar; Amar errado faz com que nem consigamos dormir. Amar errado impregna, contamina e conspira contra a paz interior.
As causas que explicam porque certas pessoas se habituaram a sofrer em seus relacionamentos são muito complexas. Baixa auto-estima, dificuldade em acreditar que pode ser feliz, dificuldade em enxergar a realidade de um relacionamento falido, situações emocionais passadas que foram negativas e tornaram a pessoa acostumada ao amor do tipo doentio e à dor emocional. Pessoas assim desenvolveram uma tendência a se envolver em relacionamentos problemáticos, cheios de dor, aceitando tudo que lhe oferecem, o pouco que lhe dão, como se fossem migalhas essenciais à sua subsistência. Aceitam o desamor, os maus tratos emocionais e até físicos, a humilhação.
Em função do pavor do abandono, iludem-se visualizando uma conexão com um futuro feliz que certamente não chegará, pensando que em um dia o outro vai acordar diferente, valorizando, reconhecendo e retribuindo seu sentimentos em relação à ele e considerando seus interesses tão importantes quanto os dele. O que indica que um futuro será feliz é o presente que vivemos. Só ele pode sinalizar o que vem pela frente. Portanto, se hoje o amor produz não felicidade, dificilmente amanhã ele produzirá.
Para começar um processo de mudança (sim, processo, porque não se vai dormir de um jeito e acordar de outro) é necessário investir em si próprio fazendo um mergulho em direção ao autoconhecimento para identificar no passado, seja remoto, na infância, ou mais recente, em  relacionamentos anteriores, o que pode ter sido determinante para sedimentar essa situação emocionalmente destrutiva.
O amor deveria ser um regulador de nossa vida psíquica porém quando ele é asfixiante e dominador ele extermina tudo o que tem mais valor na vida.


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Os Troféus

Gosto do jogo com as palavras. A Psicanálise nos ensina a valorizar as palavras, a desmembrá-las, a achar sentidos novos, únicos, subjetivos.
Ontem assistia à um documentário sobre o crime passional cometido pelo jornalista, à época diretor do Jornal O Estado de São Paulo, Pimenta Neves, que vitimou sua namorada, a também jornalista Sandra Gomide. No documentário, o psicanalista Jorge Forbes interpretou as motivações de Pimenta Neves ao tentar o suicídio, após cometer o crime. Falou em troféus. Pimenta, como homem que desfrutava de prestígio e poder, orgulhava-se em portar e ostentar seus troféus, adquiridos ao longo de sua vida profissional e social e estes, seus troféus, não foram suficientes para manter à seu lado a mulher que ele supostamente amava. Forbes inclusive desqualifica esse amor como motivação para a tentativa de suicídio. A decepção em relação à utilidade desses troféus seria o maior motivador. 
Mas meu objetivo aqui é centrar nos troféus.
Primeiro vale dizer que troféu não é necessariamente, do ponto de vista emocional, negativo. É como o dinheiro, depende da função e do lugar que você dá à ele, em sua vida.
Troféu pode ser sinônimo simplesmente de vitória e não de arrogância. Pode ser sinônimo de luta e não de ostentação.
Se você usa os troféus que você colhe em sua vida por mérito, de forma equilibrada, de forma mais interna, ou seja, até para servir a incrementar suas próximas lutas, aí você é um verdadeiro vencedor. Se ao contrário, você os usa para se transformar em um todo-poderoso ao qual os demais mortais devem reverenciar, ai fica deslocado e o resultado já previsível é essa situação alcançar níveis perigosos, principalmente em seus relacionamentos, em suas trocas afetivas.
Quando falo "de forma mais interna", quero referir-me principalmente ao prazer que se tem quando se alcança algo advindo de esforço, de dedicação, e usa-se essa conquista - esses troféus - para promover uma melhora na auto-estima, uma felicidade interior, a qual até mesmo dividimos e contagiamos, em um bom sentido, aqueles que nos cercam. Só dessa forma os troféus cumprem o seu verdadeiro objetivo, lustrar com seu brilho dourado todo o nosso ser; da outra forma, a negativa, tornar-se-ia um peso opaco e sem vida nas estantes de nossa alma.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Avante!


Avante significa nada mais do que ir; seguir; adiante; para a frente. Não é isso que fazemos todos os dias?
Acordamos, saímos, estudamos, trabalhamos, conversamos, teclamos, amamos, batalhamos, enfim, são tantos os verbos - no gerúndio - que daria para encher este texto.
Nem sempre acordamos encantados com o que fazemos, com o dia, com as pessoas, com as tarefas.
Passados os primeiros instantes, quando essa sensação nos assola, caímos na real, no enfrentamento de mais um dia, reunimos recursos e lá vamos nós!
Começamos a nos envolver em nossa rotina e assim vamos vencendo o dia. Se deixarmos, a sensação de desânimo pode por vezes nos dominar, ai cabe dar uma voz de comando dizer: "vamos lá"!
Acho que muitas coisas que fazemos são simplesmente e primeiramente um ato de boa vontade. O que seria mesmo isto? Seria, mesmo sem toda a empolgação do mundo, abraçar a tarefa, entender a necessidade de fazê-la e ir avante, já que o mundo não para se pararmos, e as nossas tarefas, estarão todas lá, nos esperando e acumuladas, quando resolvermos voltar. 
Quando uma sensação transforma-se em situação, ai é hora de tomar uma atitude mais focalizada, tentar entender os porquês, o que está por trás de tanto 'marasmo'. Vez por outra, qualquer um de nós pode ter sensações de apatia, de 'vontade de não fazer nada', mas acostumar-se com esse cenário, é perigoso, principalmente porque a vida não espera, o tempo não para, e assim podemos ficar pra trás, deixando de viver o que nos espera e o que nos colocaria na posição de um ser vivente e não de um ser existente. 
Viver é maravilhoso, embora quando a depressão chega concluímos que ela não combina com a vida. Tentar nos aproximar do que nos envolve, nos distrai, nos encanta, é um bom começo de enfrentamento da situação. Persistindo, não tem como prescindir de ajuda profissional a fim de sair o mais rápido possível desse quadro a fim de evitar uma piora, o que levaria a um sofrimento maior, lembrando que quanto mais nos afastamos de nossas verdades, mais nos afastamos da felicidade.


terça-feira, 9 de abril de 2013

Só no Chat...


Nós, os seres humanos, vamos nos adaptando às modificações, às tecnologias e à tudo que nos faz pertencer à grande tribo do planeta terra.
Quem pode prescindir do celular hoje? Só se você viver numa ilha, por opção, isolado de todos, atitude que certamente combinaria com você.
Fica cada vez mais difícil ter um atendimento real hoje em dia. Fala-se com menus, com mensagens gravadas, com softwares.
Procuramos nos atualizar e suprir nossas deficiências com os instrumentos que nos são oferecidos, a fim de facilitar nossa comunicação, torná-la mais eficiente e rápida.
Nos distraímos com nossos brinquedinhos eletrônicos, substituímos contatos físicos por contatos virtuais e até relacionamentos reais por virtuais.
Como todas as grandes invenções humanas, as novas tecnologias na área da comunicação têm um objetivo nobre: Facilitar os contatos, otimizar o tempo, aproximar as pessoas, porém, nós mesmos desvirtuamos esses equipamentos e fazemos eles trabalharem à nosso desserviço. Assim, vamos nos afastando das pessoas, perdemos tempo às vezes nos distraindo com coisas inúteis, dificultamos os encontros reais, abrindo mão do toque, da presença física, do tête à tête. 
Paradoxalmente à tantas coisas boas, também nos tornamos vulneráveis às pessoas que só existem em nosso mundo virtual, as quais não conhecemos pessoalmente, não sabemos suas intenções, não desfrutamos de sua convivência.
Quem já acumulou um pouquinho de experiência, de bagagem na vida, que já viveu, viu ou passou por algumas (mais) coisas, parece ter desenvolvido uma forma natural de lidar com isso, de se proteger, de evitar que situações perigosas aconteçam, porém, às vezes até pessoas experientes caem em ciladas por pura precipitação e falta de cuidado.
Agora, depois da Carolina Dieckmann (Lei), "coloquei uma foto sua pelada na internet, é uma coisa meio maldosa mas me diverte..." da música dos Gutembergs, é crime.
À propósito, o "Só no Chat" do título, também vem da música do Seu Jorge. Pensemos: Não dá pra ser "só no chat, só na net, só na mente".