sábado, 27 de abril de 2013

As Lágrimas Que Não Chorei.


Cena da atriz Maggie Smith em Capturing Mary
Chorar promove uma descarga emocional. Quando choramos, nosso psiquismo está disposto à varrer da alma a tristeza motivadora de nosso choro, a angústia que nos oprime.
Muitas pessoas tem reserva em relação ao ato de chorar. "Chorar é para os fracos". Entendo que é o contrário. Chorar é para quem tem coragem de assumir seus sentimentos (para si mesmo, o que é fundamental).
Chorar nos ajuda em vários sentidos. Além de denunciar para nós mesmos que algo está em desajuste, provocando sofrimento, chorar é uma oportunidade para expressar a angústia contida, o nó na garganta; assim, as emoções contidas vão literalmente por água abaixo.
Conter as lágrimas quando por algum motivo é quase impossível chorar, devido à alguma situação especial ou por estar na presença de alguém não íntimo, o que deixaria a pessoa desconfortável, não vai causar grande prejuízo, até porque um simples adiamento é convidado a entrar em cena, mas imagine o que é passar uma vida contendo lágrimas que precisavam ser derramadas!
No filme Capturing Mary, a personagem de Ruth Wilson/Maggie Smith (Mary jovem e Mary idosa), passa toda a trama engolindo lágrimas e só ao final, sozinha em um banco de parque, após fazer a catarse de toda uma vida para um ilustre desconhecido, é que ela se permite chorar. As lágrimas de toda uma vida em um choro compulsivo. Quanto tempo perdido! Em especial neste filme, consigo afirmar que, naquela situação, a ausência do choro evitou um encontro obrigatório com suas verdades mais profundas ao mesmo tempo que promoveu um viver na superficialidade, sem compreender suas reais necessidades emocionais, o que poderia ser condutor para a felicidade.
Claro que chorar se faz mais amplo; chora-se por alegria, por tristeza, por saudade, por lamento. Refiro-me aqui à necessidade de chorar por não mais aguentar a represa de sentimentos. É esse choro contido por alguma espécie de dor emocional que não ajuda a melhorarmos nossa vida , pois assim como, ao evitar nosso encontro com nossas dificuldades, nossos temores e nossas angústias, poupamos as lágrimas, também podemos, com essa atitude estar evitando o movimento em direção à uma vida emocional menos tempestuosa e quem sabe, até feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário