quarta-feira, 17 de abril de 2013

Os Troféus

Gosto do jogo com as palavras. A Psicanálise nos ensina a valorizar as palavras, a desmembrá-las, a achar sentidos novos, únicos, subjetivos.
Ontem assistia à um documentário sobre o crime passional cometido pelo jornalista, à época diretor do Jornal O Estado de São Paulo, Pimenta Neves, que vitimou sua namorada, a também jornalista Sandra Gomide. No documentário, o psicanalista Jorge Forbes interpretou as motivações de Pimenta Neves ao tentar o suicídio, após cometer o crime. Falou em troféus. Pimenta, como homem que desfrutava de prestígio e poder, orgulhava-se em portar e ostentar seus troféus, adquiridos ao longo de sua vida profissional e social e estes, seus troféus, não foram suficientes para manter à seu lado a mulher que ele supostamente amava. Forbes inclusive desqualifica esse amor como motivação para a tentativa de suicídio. A decepção em relação à utilidade desses troféus seria o maior motivador. 
Mas meu objetivo aqui é centrar nos troféus.
Primeiro vale dizer que troféu não é necessariamente, do ponto de vista emocional, negativo. É como o dinheiro, depende da função e do lugar que você dá à ele, em sua vida.
Troféu pode ser sinônimo simplesmente de vitória e não de arrogância. Pode ser sinônimo de luta e não de ostentação.
Se você usa os troféus que você colhe em sua vida por mérito, de forma equilibrada, de forma mais interna, ou seja, até para servir a incrementar suas próximas lutas, aí você é um verdadeiro vencedor. Se ao contrário, você os usa para se transformar em um todo-poderoso ao qual os demais mortais devem reverenciar, ai fica deslocado e o resultado já previsível é essa situação alcançar níveis perigosos, principalmente em seus relacionamentos, em suas trocas afetivas.
Quando falo "de forma mais interna", quero referir-me principalmente ao prazer que se tem quando se alcança algo advindo de esforço, de dedicação, e usa-se essa conquista - esses troféus - para promover uma melhora na auto-estima, uma felicidade interior, a qual até mesmo dividimos e contagiamos, em um bom sentido, aqueles que nos cercam. Só dessa forma os troféus cumprem o seu verdadeiro objetivo, lustrar com seu brilho dourado todo o nosso ser; da outra forma, a negativa, tornar-se-ia um peso opaco e sem vida nas estantes de nossa alma.

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