O passado tem especial importância no tratamento analítico. Muito do que somos é explicado pelo nosso passado, considerando até mesmo o momento em que ainda nem existíamos. O relacionamento de nossos pais por exemplo, a espera desse filho que chegaria depois.
O passado é assim valorizado para que através da análise dos fatos vivenciados, de como 'funcionamos' nessas ocasiões, possamos expandir-nos para o presente e alcançar um futuro mais efetivo e feliz. É objetivo da análise atuar nas reminiscências, no que ficou recalcado, no que ficou pendente, com o objetivo de libertar-nos em um momento posterior. Porém, na vida, ao contrário do processo analítico, o passado quando volta em demasia, o futuro não consegue se pronunciar tampouco o presente é bem vivido.
Você conhece pessoas que vivem de passado? Ou no passado? Quais seriam as razões? Excesso de felicidade, quando não conseguem se desfazer de velhas lembranças que lhes alimentam a alma? Ou simples dificuldade de atualizar a vida?
O passado certamente nos compõe, porém ele não deve funcionar como a etapa mais importante em nossas vidas. A etapa mais importante é o presente. O momento mais importante é o agora.
Atualizar a vida significa ir dia a dia checando nossos caminhos. Para onde estamos indo. Nossa vida está satisfatória ou estamos meramente acordando, trabalhando, comendo, existindo enfim?
Quando ficamos presos ao passado não conseguimos vislumbrar saídas interessantes. Estamos alheios à nossas possibilidades. Nos apegamos à algo que já ocupou um grande sentido em nossas vidas mas ficou para trás. E lá, naquele lugar, parece que não vai conseguir fazer muita diferença. O passado inegavelmente nos constitui mas temos um presente que precisa ser vivido em sua plenitude e mais uma vez, o apego ao passado atrapalha.
Lembrando um pouco os acumuladores que ao longo da vida vão criando um museu de objetos, os quais estão conectados à lembranças, quem se apega ao passado entulha a alma de trash dificultando a remoção de espaço para novas experiências, novas aventuras, novos sorrisos, novas vivências.
Assim, atolados em uma montanha simbólica de conteúdos mortos, não conseguem viver a vida, com toda a leveza que isso requer. Quanto mais acumulam, guardam e rendem homenagens à uma situação inexistente, proporcionalmente menos enxergam seu momento de vida atual. Seu hoje, seu agora.
Não empobreça sua vida perdendo-se em lembranças; alimente-se delas para projetar novos sonhos, para viver o que existe agora e desenvolver material para o que virá - de bom - no futuro.