A propósito do fim de ano, fico aqui pensando no balanço pessoal que sempre fazemos nessa época. Todos os dias compõem nossa vida. Não importa se estamos bem, se estamos mal, se estamos empenhados em algum projeto, se estamos alheios à existência, se é janeiro ou dezembro...
Fim de ano torna-se um momento chave por questões culturais; desde crianças nos foi ensinado que, ao findar um ano e iniciar outro, deveríamos refletir sobre a vida, traçar planos, desejar bons votos, enfim, mudar.
Muda o ano, nós mudamos. Mudamos no sentido de alterar antigos padrões, mudamos em direção a construir uma vida melhor. Nos planos, tudo maravilhoso. Mas, e na vida real?
Como a mudança de ano é uma simples convenção de nosso calendário cristão, é obvio que ela em nada contribui para as mudanças que queremos. Estas devem partir de nosso interior, caso contrário, ficarão apenas na vontade. Aliás, vontade é o que não pode faltar caso queiramos avançar; ação também, não. Pensar e falar não adiantam nada se não vierem acompanhados do fazer.
Convivendo com as pessoas, percebemos facilmente como a grande maioria emperra justamente nesse item. Somos muito bons em traçar planos mas somos um desastre em executá-los. Por conta de nossa inoperância, envelhecemos adiando nossos planos; conheço pessoas que passam uma vida inteira planejando e não percebem que o tempo está passando e nada de prático é feito para que esses planos e sonhos sejam efetivamente realizados.
A vida é uma preciosidade. Viver é fantástico. Temos nas mãos a oportunidade de criar, sonhar, reformar, construir e fazer. Primeiramente mudamos o discurso; finalmente mudamos as atitudes.
Quando nos distraímos daquilo que realmente é importante e ficamos presos em detalhes, perdemos tempo e energia. Problematizamos, quando o mais assertivo seria descomplicar. Aqui insisto que o mais importante na vida são os afetos. De nada adianta dinheiro, poder, sucesso, se na vida não construímos afetos. Seremos vazios, sem ter na vida conseguido experienciar a felicidade que só os legítimos afetos nos proporcionam.
A prioridade é viver, não somente existir. Para tanto, devemos avaliar nosso nível de satisfação nos diferentes aspectos da vida e paralelamente tentar entender o porque de não estarmos plenos. A partir do conhecimento da situação (e aqui não valer escamotear nada), podemos vislumbrar como melhorar. Sem farsas, sem meios-termos, fazendo um mergulho no eu para encontrar nossas verdades.
Quando neuroticamente nos enganamos, mais distante ficamos do que realmente queremos. Que esse seja nosso principal plano. Dele certamente virão as desejadas e necessárias mudanças.